quarta-feira, 15 de outubro de 2014

VIAGEM DOS SENTIDOS...

















Meu peito como se ungido,
trêfego, e o olhar ferido
na busca de outro com dó.
Nó desse elo partido
que me faz caminhar só.

Quero o jeito do ser ingente,
o corpo sintonia da mente,
mas nada vem sem dor.
Um beijo a saliva sente.
Um abraço já fica melhor.

Parto sem medo, indene,
pois nada é mesmo perene
nessa estadia passageira.
Ente do mar, sigo o leme
sobre a onda derradeira.

Meu pranto logo escorre,
face em que o riso morre
no ir e vir da maré.
Absorto, meio de porre,
percebo o que o mundo é.

Volto à boca e aos braços,
desenho todos os traços
dessa singular viagem.
Os vestígios dos abraços
renovam minha coragem.

Os ventos dizem meu rumo,
e não há qualquer aprumo
que me pare ou me prenda.
Canção, gole e fumo
e logo escapo pela fenda...

Trago sons dissonantes
e a sede dos amantes
que navegam sem parada.
Os amores são constantes.
A palavra é versejada.

Tão junto e tão sozinho,
tanta rosa e tanto espinho
presentes sem nenhum zelo.
A surpresa pelo caminho.
A alegria e o desmantelo.

Passo tensas tempestades
e sofro com as vaidades
que maculam a vivência.
No trânsito das idades
exercito a paciência.

Pouco fica e tudo passa:
um dengo que se faça;
uma saudade que insiste.
E o coração só disfarça
o desejo que já é triste.

Assim vagueio pelos mares,
navegando  os meus estares
sem controle, nem calmaria.
Perco-me com os olhares

que suscitam a poesia.

R. Dantas

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