SERTÃO MATUTINO
(Aos diletos amigos de Uauá)
I
Nó cego de
corda,
firme o laço
dado.
Vaqueiro
aprumado
manhã cedo
acorda
pra lida com
o gado.
II
O padre abre
a igreja,
profere o
verbo divino,
catequiza o
menino
que a sua
mão beija
com os
lábios de mofino.
III
Beatas
chegam contritas
de terço e
escuro véu.
Rogam preces
para o céu,
fervorosas e
aflitas,
adoçando
todo o fel.
IV
Um rugido,
carro de boi,
ecoa lá da
praça,
devagar
quase não passa.
É Zé Gogó
que já foi
mercadejar a
sua caça.
V
Enxadas
cavam o eito,
cânticos são
entoados;
a labuta
pelos roçados.
O trabalho,
o direito
e os sonhos
renovados.
VI
Zé do Leite
anuncia
o seu fresco
alimento,
carregado no
jumento,
seu
transporte e serventia;
e sereno
passa o tempo.
VII
Findam a
noite fria
e os uivos
da lagoa.
O sabiá
livre voa
anunciando
com alegria
a manhã nua
e boa!
VIII
A voz das
lavadeiras
acorda as
crianças
e renova as
esperanças:
chuvas e
corredeiras
para um rio
de bonança!
IX
Pífaros soam
distantes
em tons
entrecortados.
Os ecos
compassados
revelam-se
intrigantes
aos ouvidos
afinados.
X
Raio de sol
majestoso
faz brilhar
o cruzeiro.
O povaréu em
converseiro
no barracão
apetitoso
come carne
de fumeiro
XI
Pelejas e
violas,
causos
recontados.
Tragos
apostados,
armadilhas e
gaiolas,
filhotes
libertados.
XII
Ah! Sertão
matutino,
querenças de
menino,
os dias sem
as horas.
Tempo que
ferino
fez perder o
tino:
saudade das
auroras.
Roberto Dantas
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