Acompanhei,
nos últimos anos, os discursos e ações produzidos pela Secretaria do Turismo do
Estado da Bahia, concernentes a sua atuação e objetivos no que respeita ao dito
“resgate e revitalização dos festejos
juninos no nosso estado”, discursos e ações que muito me preocuparam e,
ainda, preocupam, antevendo, temeroso, a continuidade dessa política
institucional equivocada, mais especialmente para o sertão da Bahia, recanto
privilegiado das mais expressivas manifestações culturais populares.
Em
primeiro lugar, penso que “resgate” (termo
tantas vezes utilizado pelos representantes do referido órgão) não seja o mais
apropriado para tratar do assunto. Mas, evidentemente, o que mais me incomoda e
atemoriza, razão do que já se testemunhou em algumas cidades, foi a completa
invasão de estilos e ritmos que nada traduzem ou contribuem para a justa
valorização e a conseqüente visibilidade das genuínas expressões da cultura
popular atrelada aos ditos festejos.
Inaceitável,
no meu humilde entendimento, que “Ivetes Madeiradas”, “Bells Camaleônicos”,
“Léos Rebolations”, “Psiricos”, “Fantasmões”, “Loirinhas Desnatadas”, “Evas
sem Adão”, “Tomates Enjoativos”, “Durvais Mal-Coroados”, “Forrós Plastificados", enfim axés, pagodes e falsos
forrós, alguns até de competências tão duvidosas, outros com seus intoleráveis
apelos sexuais exibidos sob uma parafernália de sons e luzes, ocupem, de forma
agressiva porque majoritária, os palcos principais e, da mesma forma, percebam
os melhores cachês, o que resulta na inaceitável e revoltante exclusão dos
cantadores e compositores sertanejos, dos sanfoneiros, dos tocadores de
pé-de-bode e de pífaros, dos zabumbeiros, das quadrilhas juninas, dos
cordelistas e poetas populares! Para estes últimos – que deveriam ser os mais
solicitados e valorizados! - quando eventualmente contratados, são reservados
os horários de menor ocorrência de público e os mais reles pagamentos pelos
seus qualificados trabalhos. Ou seja, tem havido uma total e injusta inversão de
valores!
Recentemente,
apenas para citar um exemplo, causou-se indignação o desabafo de um grande
mestre cantador da cultura popular sertaneja que, triste e revoltado, assim
traduziu a sua desdita: “tive pouco tempo
para tocar meu professor! Me apresentei acuado
entre duas grandes bandas!”. Inteligente trocadilho (o grifo é para
ressaltar mesmo!) que claramente traduz as contradições aqui apresentadas e que
carecem, efetivamente, de imediata reação. Como se fosse um “enchimento de
lingüiça”, assim se sentiu o compositor e cantador do sertão, o nosso querido
Mestre Cavachão de Uauá, quando de sua apresentação “the flash” em sua própria cidade! Eis a preocupante realidade:
entre as suntuosas apresentações das bandas “famosas” - cujos dançarinos mais
encenam exercícios aeróbicos, coreografias sexuais dispensáveis e malabarismos
circenses de mau gosto e cujos cantores mais gritam desafinados do que
propriamente cantam -, timidamente e sob inaceitáveis pressões se apresentam os
cantadores e músicos do cancioneiro popular sertanejo.
Tenho
plena consciência de que a cultura é dinâmica, diversa, naturalmente renovadora
nos seus passos e inovadora nas suas criações, que jovens artistas e suas
produções rítmicas diferenciadas surjam e, conseqüentemente, enriqueçam o
cenário cultural, considerando-se, inclusive, a propalada, porém pouco
entendida e pouco respeitada, diversidade cultural baiana. Mais aceitável ainda
que o “dito moderno” conviva com o “dito tradicional”. Cultura sempre foi e será movimento! Entretanto, sem exclusões e violentas descaracterizações!
Mas,
a infeliz conjunção do desconhecimento e desrespeito pelas tradições culturais
com a demagogia que esconde ambiciosos, escusos e interesses imediatistas,
tanto dos setores privados (inclua-se, aqui, boa parte dos poderosos canais
midiáticos), quanto de algumas autoridades públicas então constituídas, têm, na
real, contribuído para este quadro inaceitável que hoje se pinta nos junhos
baianos.
Roberto Dantas.
É, assim como os festejos juninos, com o Carnaval da nossa querida Salvador, vem acontecendo o mesmo. Os órgãos ligados ao turismo do Estado, que deveriam trabalhar em favor da cultura baiana - rica sobretudo, pela sua diversidade -, agem de forma unilateral, favorecendo aos interesses dos empresários, os quais só pensam no lucro.
ResponderExcluirComo dizia Caetano "Triste Bahia"..
Boas as reflexões professor.
Abraço