quarta-feira, 1 de outubro de 2014

TRILHAS











Na ponta daquele espinho -
tão ferino e aguçado –
tracei o meu caminho,
sedento e sozinho,
pelo solo esturricado.
Eis a rude palma –
tão bela e vistosa –
trazendo-me a calma,
serenando-me a alma
e minha sede inditosa.

Admiro a macambira –
tão cheia e perigosa –
sustando minha ira;
e o medo que me fira
pela caatinga tinhosa.
Coroa de frade incrustada –
tão dura e singular –
pontuando a caminhada,
solitária, estafada,
de cancelas a pular.

Armas dos meus rincões,
armadilhas para os invasores.
Sofrimentos nos corações,
lágrimas foram expressões
de um passado de dores.
Tanto sangue derramado,
gume de gravata vermelha.
Um Conselheiro idolatrado,
um Bello Monte celebrado
que a nenhum se assemelha!

Canudos, mudas histórias,
utopia de chão e fé.
Tiros, perdas e glórias
gravadas nas memórias
desde o fogo de Maceté.
Trilhas de Abade e Pajeú,
doloridas suas lembranças.
A alma livre e o corpo nu
acolhem ao velho tabu
de não perder as esperanças.

Acelero o meu passo
pleno de recordações.
Imagino um terno abraço,
e o olhar que meigo traço
desenha minhas paixões.
Sertão em que tanto bebo,
terra que nua me acolhe.
Paragem que trás sossego,
desnude e descarrego
se há água que lhe molhe.

São serras majestosas,
Lajedos, rios serenos.
São cachaças apetitosas,
violas e canções ditosas
a espargir bons venenos.
Cruel a seca, vil a labuta,
sertanejo acabrunhado.
À fé o coração perscruta,
pouca fala, muita escuta
e um aboio é recitado.

Trilhas de rotas passadas,
labirinto de rudes vielas.
Sertões das almas penadas,
das ladainhas pranteadas,
dos préstitos à luz de velas.
Sertões, sim, do presente.
Sertões, sempre, do passado.
À terra árida e quente,
ao sertanejo forte e crente
o meu louvor sacramentado.


Roberto Dantas.
Foto: fonte google

3 comentários:

  1. Salve, caba vei!!
    Lindeza de blog!
    Solta os versos universo afora!

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  2. Adorei o poema! Muito bom... Já estava na hora de publicar :) Bjs, Carol.

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  3. Ah! Então vc acertou a comentar, rs!
    Obrigado filha. Beijo.

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