domingo, 12 de outubro de 2014

POEMA "SINAL DOS SINOS"




Dobraram os sinos da igreja,
o meu amor sem que eu veja
se foi num resto de olhar.
Filete de lágrima a derramar,
líquido frio em mim viceja
num crepúsculo de cor âmbar.

Terno silêncio do anoitecer,
ave-marias para acolher
as dores que residem em mim.
Perscruto o cheiro do alecrim,
penso no que pode acontecer
nessa noite crua sem fim.

A angústia da próxima hora,
a falta que vem e demora
inunda ao poço dos sentidos.
E os meus versos ressentidos
tingem de cinza a aurora
dos desejos incontidos.

Moça da voz pranteada,
face sedutora, iluminada,
boca que beija e aquece.
Tez que minha mão tece,
acariciando enamorada
num toque que enternece.

Calaram os sinos da velha igreja
e não há um olhar que seja
para além das torres paralelas.
Perdi-me nos becos e vielas,
na escuridão que vil enseja
as mais rudes querelas.

Roberto Dantas







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