quinta-feira, 23 de outubro de 2014

BREVES REFLEXÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO EXÉRCITO NA GUERRA DE CANUDOS










(Registro - R. Dantas)



A guerra fratricida de Canudos (Nov/1896 – Out/1897), para além do assustador número de mortos, feridos, inválidos - máculas impagáveis para o cotidiano logo depois vivenciado pelas comunidades sertanejas que viviam no entorno do insurrecto Arraial do Belo Monte (Canudos) -, deixou, como inaceitável e triste legado, a incompetente e violenta participação do Exército Republicano Brasileiro, consignada, dentre outros desmandos, na desorganização das operações militares, na ambição e vaidade desmedidas de muitos de seus comandantes no campo da luta e, ainda, no vil preconceito protagonizado pela grande maioria de seus efetivos. É que comandantes e comandados destilaram, sem zelos, as suas raivosas discriminações, tanto em relação à região em que desastradamente atuaram e, com semelhante intensidade, quanto ao tratamento dispensado aos combatentes conselheiristas, como de resto aos demais sertanejos com os quais se debateram.

No que pese toda a arrogância e o exagerado otimismo com que as tropas partiram da Capital Federal (Rio de Janeiro) e de outras capitais da recém-fundada “República da Espada” (no sertão operaram efetivos militares de dezessete estados brasileiros!), foram necessárias quatro expedições e quase onze meses para a conquista definitiva da cidadela sagrada de Canudos, expedições que, apesar de melhor municiadas e contando com maior número de contendores em relação aos guerreiros sertanejos, acumularam desesperadoras e vergonhosas derrotas, que causaram espanto e desmesurado ódio no seio das elites políticas, religiosas, econômicas e, especialmente, militares. Aliás, vale ressaltar que – como muito se disse quando da grave contenda – no sertão da Bahia esteve presente a chamada “fina flor” do Exército Republicano Brasileiro: seus muitos coronéis, alguns generais e até o então Ministro da Guerra, o Marechal Carlos Machado Bittencourt.

Muitos foram os fatos e circunstâncias que comprovaram esta negativa investida armada contra o solidário e populoso arraial (aproximadamente trinta mil pessoas!), plantado às margens do histórico rio Vaza Barris, que provia a comunidade de Antônio Conselheiro, este andarilho incansável, o fervoroso peregrino que, tendo padecido sofrimentos no sertão do Ceará - onde nasceu em 1830 e batizado Antônio Vicente Mendes Maciel - percorreu os ínvios caminhos nordestinos, quando distribuiu conselhos, ajuntou o povo pobre para rezar, pregou a doutrina católica, cavou poços e cacimbas, alevantou muros de cemitérios e construiu igrejas. Passado o tempo das andanças, fincou o seu gasto cajado no sertão da Bahia, em terras da antiga e abandonada Fazenda Canudos, aí fundando, em junho de 1893, o seu “Império do Belo Monte”, já acompanhado de fiel e numeroso séquito.

As duas primeiras expedições sequer vislumbraram as torres da Igreja Nova do Belo Monte. A primeira, comandada pelo Tenente Manoel Pires Ferreira e com um efetivo de 104 praças, tendo partido da cidade de Juazeiro, após empreender longa e sofrida viagem pela catinga intransitável, quando acantonada na Vila de Uauá, portanto ainda distante do seu alvo principal, enfrentou, em novembro de 1896, renhida batalha com os combatentes conselheiristas, os quais ali chegaram entoando cânticos religiosos, portando cruzes, imagens, algumas armas de caça, machados e cacetes, sob o comando austero de João Abade, o então Chefe da Guarda Católica Conselheirista, filho da cidade de Tucano. Segundo o relato do próprio comandante expedicionário, Tenente Pires Ferreira, os conselheiristas “vieram para guerra como poderiam ter vindo para alguma procissão ou ato religioso”. Apesar das consideráveis perdas verificadas no lado conselheirista, talvez em razão da perda de seus dois guias e do surto repentino que teria acometido ao único médico da expedição momentaneamente desbaratada, somando-se a isso certamente a rudeza do solo e o clima abrasante, o citado comandante reuniu sua tropa assustada e ordenou a retirada, retornando, constrangido, ao seu local de origem.

                                              

                                               (Registro - R. Dantas)

A segunda expedição, organizada imediatamente após o fracasso da primeira, partindo de Queimadas e acantonando brevemente em Monte Santo (ambas as vilas se tornaram, naqueles dias conturbados, as bases primaciais das forças militares em operação no sertão baiano), recebeu o comando não mais de um oficial Tenente, mas de um Major, o militar Febrônio de Brito. Com um efetivo triplicado, padeceu dois virulentos ataques dos conselheiristas: o primeiro, na Serra do Cambaio; e o segundo, na antiga Lagoa do Cipó, que depois do sangrento embate, passaria a ser chamada de Lagoa do Sangue. Tal foi a carnificina vivenciada nas referidas batalhas e, sobretudo, a excelência da tática dos sertanejos em luta, ensejada nos movimentos intermitentes de “fustigamento à tropa”, que o resultado configurou igualmente desastroso para a expedição. Destes dias de janeiro de 1897 jamais o Major Febrônio de Brito esqueceria enquanto vivo permaneceu, já que, razão de sua inaceitável retirada da contenda, e tal como o Tenente Pires Ferreira sem sequer cumprir com o seu objetivo de atacar Canudos, aquele graduado oficial foi duramente criticado, recebendo a alcunha nada honrosa de “Major Fujão”. Para ilustrar o fato, o próprio Major Febrônio, em seu relato de combate, atestara ter dizimado 600 conselheiristas e apenas perdido dez de seus briosos soldados! Números certamente incompreensíveis para o crédito de seus indignados superiores! Então, quais razões embasaram a decisão de retirada?

Somente a “invencível”, numerosa e tão ovacionada terceira expedição militar alcançaria, pela primeira vez, as cercanias do arraial resistente e até dominaria, durante algumas horas, mas sob cerrado fogo e de forma açodada, alguns de seus periféricos barracos. Tal fora a revolta na Caserna e a indignação de quase toda a sociedade, insuflada pelos jornais e provocada pelos políticos mais radicais em face da derrota de Febrônio, que coube ao renomado e fanático militar florianista, o Coronel Antônio Moreira Cesar, alcunhado “Corta-Pescoço”, o comando dos quase 1.200 efetivos da tropa. Os sertanejos testemunhariam a empáfia e o destempero deste oficial da Arma da Infantaria, engenheiro militar, que vociferava em todos os passos de sua longa caminhada de Salvador até os inóspitos rincões sertanejos de que “traria a cabeça do Conselheiro para exposição nas ruas da Capital Federal” e que “tão somente receava que o beato transgressor, ao saber de sua presença no sertão para combatê-lo, evadisse amedrontado antes mesmo de sua chegada em Canudos”.

Triste, entretanto, seria o destino deste compulsivo militar. Atingido gravemente nos arredores da cidadela conselheirista, logo no início de sua inadequada e apressada investida, expiraria numa pobre cabana sertaneja, na fria madrugada do mês de março de 1897. Contribuíram, provavelmente, para a capitulação precoce da expedição o cansaço da tropa – havia empreendido exaustiva marcha e, por isso, carecia de descanso e rancho - e a incompetência de não ter sido feito, como se deveria, o anterior reconhecimento do terreno em que operaria. A rota fora a maior cumprida das expedições já enviadas: Queimadas, Monte Santo, Cumbe (hoje, cidade de Euclides da Cunha), Rosário, Umburanas e Canudos. A dupla notícia da derrota da celebrada expedição, mas, sobretudo, da morte de seu laureado comandante na inditosa refrega, causou verdadeira comoção nacional. Vários tumultos, quebra-quebras, empastelamento de jornais reconhecidos monarquistas e até o assassinato de um renomado jornalista nas ruas do Rio de Janeiro, Gentil de Castro, agitaram violentamente o país. Dizia-se à viva voz: “República em perigo!”.



                                                   (Registro - R. Dantas)


Imediatamente formou-se a quarta expedição militar a ser enviada para Canudos. Com os seus preparativos iniciados desde o mês de abril, somente em junho de 1897 a expedição chegaria, com alguns percalços, nos arredores de Canudos, mais precisamente no Alto da Favela ou Morro do Barro Vermelho. Configurou-se no maior ajuntamento de efetivos para uma guerra – bom lembrar, endógena! – na história militar da nação brasileira. Esta grandiosa expedição foi, para sorte de seus componentes e para o futuro do governo brasileiro, dividida em duas grandes colunas, compostas cada qual com três batalhões, a saber: à primeira coluna, que marchou de Queimadas e Monte Santo até Canudos, coube o comando do General Silva Barbosa; a segunda, que partiu de Aracaju e São Cristóvão, no vizinho estado de Sergipe, tendo chegado, via Jeremoabo, a Canudos, teve como comandante o General Claudio do Amaral Savaget. O comandante-em-chefe de todo o efetivo foi o General Artur Oscar Guimarães, oficial de extensa ficha no Exército.

Além de padecer os frequentes fustigamentos dos guerreiros de Conselheiro, da mesma forma a carência de água e as atribulações do clima abrasante em solo desconhecido e rudemente esturricado, a expedição, atraída inteligentemente pelos sertanejos para o referido morro, neste sofreria as piores agruras de seu tortuoso itinerário, já que tendo a sua “cauda” apartada dos corpos principais da tropa, portanto burramente desprotegida, sofreria o assalto ao seu comboio (munições de guerra e de boca) no Vale das Umburanas, localidade próxima ao Alto da Favela. Não fosse a outra rota escolhida pela segunda coluna (Sergipe/Bahia), certamente incerto teria sido o destino do imenso efetivo militar, vendo-se, como afinal de deu, sufocado, sem armas, água e alimentos, pelos conselheiristas. A segunda coluna, que também enfrentou duras escaramuças na Serra do Cocorobó e nas localidades de Macambira e Trabubu, sítios próximos ao arraial de Canudos, salvaria dramaticamente a primeira.

No entanto, conforme foi dito acima, apenas num sombrio entardecer de outubro dar-se-ia o trágico final dessa guerra fratricida, sendo, portanto, necessários quase quatro meses de ataques mal conduzidos e de vergonhosos recuos, de muitas perdas e sofrimentos inomináveis, para a conquista definitiva do arraial sertanejo. Metralhadoras, balas de canhões e até de querosene, granadas, fuzis, facas e facões, enfim, a todo armamento disponível se recorreu, desesperadamente, para o alcance do objetivo político-militar de se destruir a “Tróia de Barro”. Porém, o pior dos crimes ainda seria cometido pelos efetivos militares, absurdamente quando rendidos e já feitos prisioneiros os conselheiristas: a covarde “gravata vermelha”, ou seja, o vil degolamento! Feito o acordo da rendição entre as partes beligerantes, um código de guerra foi gravemente desrespeitado, quebrado criminosamente pelos comandantes das forças militares. Premido pelo seu sentimento de revolta, o jovem acadêmico de medicina, Alvim Martins Horcades, que ao teatro da guerra voluntariamente se apresentara com o valoroso objetivo de atender aos inúmeros feridos, deixou, em seu livro “Descrição de uma viagem a Canudos”, poucos anos após o grande conflito, o seu corajoso depoimento: “Em Canudos foram degolados quase todos os prisioneiros”!



                                                (Registro - R. Dantas)

Homens estropiados, velhos incapazes e doentes, mulheres esquálidas e até inocentes crianças foram covardemente degolados. Algumas poucas mulheres foram preservadas, mas sendo algumas seviciadas e outras obrigatoriamente tornadas prostitutas, levadas para a cidade de Alagoinhas. Os relatos produzidos pelos membros do Comitê Patriótico da Bahia, cujo líder maior foi Lélis Piedade, são dramáticos quanto ao estado deplorável dessas sertanejas na referenciada municipalidade. Crianças – pejorativamente alcunhadas pelos militares de “jaguncinhos” – foram arrancadas dos seios de suas desesperadas mães, cujos pais pereceram lutando, e levadas por alguns militares como se fossem “brindes” pela vitória finalmente alcançada! Eis a dita “civilidade” dos sulistas republicanos!

Canudos pereceu no entardecer do dia 05 de outubro de 1897. Sem dúvida, representou e ainda muito representa enquanto maior movimento popular da história social brasileira.

Roberto Dantas




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

POEMA "PULSAÇÕES"

















Vivencio sonhos seráficos,
prazerosamente angelicais.
Fujo dos modos estáticos
das convenções banais.

Subverto a ordem rígida,
serenamente e sem receio.
Vida é para ser repartida
em partes ou ao meio.

Há de se ter mudanças,
muitos dizeres, novos ares.
Imperativas as andanças
pelos chãos e pelos mares.

Inteligente a boa escuta,
o primado do bom sentido.
Sábio o que da labuta
amadurece o que tem sido.

Vida de rotinas e mutações,
velhos e novos os caminhos.
E no compasso das pulsações
livre buscar os carinhos.

Poesias que dizem segredos,
caras e bocas em sincronia.
Dissipados todos os medos
acolhe-se, feliz, a harmonia.

R. Dantas



domingo, 19 de outubro de 2014

HOMENAGEM AO MESTRE CAVACHÃO DE UAUÁ

LANÇAMENTO DE LIVRO, RECITAL DE CORDEL, CANTORIA E MUITO FORRÓ
ESPAÇO CULTURAL TOQUE DE ZABUMBA - DATA: 02/11/14 - 13hs - UAUÁ



MESTRE CAVACHÃO







Antônio Sabino Marques, Mestre Cavachão, nascido na histórica Vila de Uauá, local onde o guerreiro conselheirista, João Abade, secundado por fervorosos seguidores do peregrino Antônio Conselheiro, combateu, nos idos de 1896, as tropas militares republicanas enviadas ao sertão baiano com o objetivo  -  nesta refrega não alcançado!  -  de massacrar à solidária e resistente cidadela do Belo Monte, que ficaria, entretanto, mais conhecida como Arraial de Canudos.

Compositor e reconhecido como uma das mais fluentes e adoráveis vozes do sertão baiano, Mestre Cavachão sempre cantou e respeitosamente reverenciou a sua querida "Terra dos Pirilampos", recanto inegavelmente acolhedor e privilegiado das expressões da cultura popular sertaneja.




Cavachão que também é Sabiá, tendo sido dessa forma carinhosamente alcunhado quando formou dupla de sucesso com o sambista Riachão, encantou com a sua inseparável alegria as noites e os diversos furdunços musicais da menos histórica capital soteropolitana, portanto o solo poético de Castro Alves e Dorival Caymmi da Salvador de Todos os Santos.

Salve Cavachão! Salve a cultura popular do sertão!




quarta-feira, 15 de outubro de 2014

VIAGEM DOS SENTIDOS...

















Meu peito como se ungido,
trêfego, e o olhar ferido
na busca de outro com dó.
Nó desse elo partido
que me faz caminhar só.

Quero o jeito do ser ingente,
o corpo sintonia da mente,
mas nada vem sem dor.
Um beijo a saliva sente.
Um abraço já fica melhor.

Parto sem medo, indene,
pois nada é mesmo perene
nessa estadia passageira.
Ente do mar, sigo o leme
sobre a onda derradeira.

Meu pranto logo escorre,
face em que o riso morre
no ir e vir da maré.
Absorto, meio de porre,
percebo o que o mundo é.

Volto à boca e aos braços,
desenho todos os traços
dessa singular viagem.
Os vestígios dos abraços
renovam minha coragem.

Os ventos dizem meu rumo,
e não há qualquer aprumo
que me pare ou me prenda.
Canção, gole e fumo
e logo escapo pela fenda...

Trago sons dissonantes
e a sede dos amantes
que navegam sem parada.
Os amores são constantes.
A palavra é versejada.

Tão junto e tão sozinho,
tanta rosa e tanto espinho
presentes sem nenhum zelo.
A surpresa pelo caminho.
A alegria e o desmantelo.

Passo tensas tempestades
e sofro com as vaidades
que maculam a vivência.
No trânsito das idades
exercito a paciência.

Pouco fica e tudo passa:
um dengo que se faça;
uma saudade que insiste.
E o coração só disfarça
o desejo que já é triste.

Assim vagueio pelos mares,
navegando  os meus estares
sem controle, nem calmaria.
Perco-me com os olhares

que suscitam a poesia.

R. Dantas

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

POEMA "APENAS SER"


 













Sigo perscrutando o espaço
em que seja doce o alimento
e sincero o calor do abraço,
sem zelo, sem medo: sedento.
Não há regras para o amor,
nem coragem sem destemor.
E a dor que surge e entristece
ensina o que a vida tece
sob os desígnios das paixões.

Ah! O vil desejo das ilusões
de ser feliz a qualquer preço
trás o fim sem um começo,
sob descontroles e compulsões.
Jamais ignorar a poesia
que sendo a voz da maestria
rege o silêncio dos corações.

Melhor do que o fácil dizer,
ou interpretar sem sequer ler,
é bem pensar e livre sentir.
Escutar, crer e repartir,
imune ao torpe preconceito.
Respirar e pulsar no peito

o sentido de apenas ser!

R. Dantas

EVENTO CULTURAL NA UNEB



TURISCULT – A CULTURA POPULAR DO SERTÃO


Imperativa é a necessidade de não apenas se debruçar, cotidianamente, sobre os estudos atinentes às mais diversas expressividades e manifestações da cultura, mas, sobretudo, vivenciá-los nos espaços que a sociedade oferta.

Ensinando e apreendendo conhecimentos, interagindo com novas pessoas, enfim vivendo-se num ambiente universitário, numa livre e democrática instituição universitária – ressalte-se, reconhecida “Casa dos Saberes”-, justifica-se a importância de se refletir, discutir, conhecer, interpretar e, logicamente, vivenciar a cultura em seu seio, portanto no dia a dia em que se movem os seus protagonistas: professores, estudantes, funcionários, visitantes. Universidade que, como o próprio nome claramente já sinaliza, também abraça e produz essa rica diversidade cultural. Compreender, sobretudo, que quando responsavelmente se propõe, sem preconceitos ou escudos, estudos e ações concretas que dêem vida a temas de tal natureza e complexidade está se trabalhando, sob o primado da ética, com identidades!

Some-se a tais fundamentos inegavelmente significativos o fato de ser a Bahia o estado brasileiro em que aquela rica diversidade se expõe e se traduz à flor da pele, dadivosamente amalgamada pelas mais belas, díspares e intrigantes manifestações culturais que pululam pelos seus vastos rincões. Não há dúvida que estas urgentemente prescindem da abertura de canais que propiciem o seu conhecimento, que ensejem as devidas reflexões sobre a sua justa visibilidade entre os jovens estudantes, especialmente porque, hoje mais do que no passado, se debatem com a indiferença, a ganância, a ignorância e o desrespeito de boa parte dos representantes das agências e empresas financiadoras constituintes do denominado “setor privado”, que apenas visam o lucro fácil e descompromissado, os quais, quase sempre, se ancoram na omissão, conivência e, mesmo, na similitude de mesquinhos interesses, das autoridades públicas constituídas. 

Há, hoje, uma deletéria tentativa de se homogeneizar a cultura, massificando-se apenas alguns poucos e questionáveis estilos e expressões culturais como se fossem os únicos existentes, ou passíveis de apoio ou, o que é ainda pior, de serem plenamente reconhecidos. Míopes visões! Pobres encaminhamentos! Tristes e danosas conseqüências!

E no seio desta aqui pensada livre e democrática universidade pública, portanto desta nossa querida UNEB de rica e provocativa multicampia, atuando igualmente com inteligência e sensibilidade, vêm, através dessa breve proposta, os estudantes e professores vinculados ao seu Curso de Turismo e Hotelaria propor o debate, a dramatização, a poesia, a música, enfim o conhecimento e a vivência cultural de algumas das muitas expressividades da nossa cultura popular – nesta primeira eventualidade, as do nosso sertão -, envidando o seu reconhecimento e sua carente visibilidade, disponibilizando, desse modo, um valioso espaço para que iniciativas dessa natureza permaneçam, inclusive, no calendário oficial universitário, a cada ano sendo renovado, acolhendo as demais linguagens culturais de raízes eminentemente populares, então espalhadas pela imensidão territorial da Bahia.

Prof. Roberto Dantas (DCH I – UNEB / História).


O EVENTO – PROGRAMAÇÃO

DATA: 07/11/2014 (sexta)
LOCAL: “Bolo de Noiva” (Defronte ao Prédio das Pós-Graduações)
14:00H – Exposição c/ debate
                 Tema: “Turismo Cultural; a cultura popular do sertão”
                 Expositores: Diego Abreu e Manuela Messias
                                         .Turismo Cultural no Sertão de Canudos
                 Comentários: Profa. Natália Coimbra
                 Expositor: Maviael Melo
                                    .A cultura popular do sertão
                 Comentários: Prof. Roberto Dantas
16:00H – Apresentação de Pôsteres (Estudantes de Turismo da UNEB)
16:40H - Peça Teatral (Estudantes de Turismo da UNEB)
17:30H – Recital de Cordel e Poesia Popular (Estudantes do DCH I - UNEB)
18:30H – Show de Forró (Rennan Mendes / Uauá – BA).


domingo, 12 de outubro de 2014

TEXTO DE MANOEL AUGUSTO PAES NUNES - ELEIÇÕES 2014









Brasileiros e brasileiras

É chegado o momento de refletirmos com maturidade sobre dois modelos políticos que se nos apresentam para dirigir os destinos do nosso país: um que, apesar das mazelas, avançou notavelmente, circunstância reconhecida internacionalmente e outro que também tem suas mazelas (e muitas!¹) e que não avançou na mesma proporção.

Na verdade, em nosso país, não há partido político que possua estofo moral para sustentar um discurso anticorrupção nem a favor da ética, todos têm seus telhados de vidro, salvo alguns tidos como nanicos que ainda não tiveram a oportunidade de chegar ao poder. Não é que tenhamos que concordar com a corrupção, temos mais é que combatê-la, sabendo, porém, que ela nunca será extirpada da humanidade. Em todos os governos, em qualquer parte do mundo, ela se faz presente. Basta atentarmos para o noticiário internacional. Ela está presente até em instituições que jamais poderíamos imaginar que pudesse chegar!

Tão nocivos quanto a corrupção são a hipocrisia e o cinismo, os quais, muitas vezes, têm ensejado a volta ao poder de velhas raposas. Penso que o nosso papel, daqui para frente, será o de sair filtrando dentro de cada partido para aproveitar o que há de melhor.
Enfim, estamos diante de dois projetos: um que se propõe a continuar avançando e outro que representa um retrocesso travestido de "mudança".

É bom notar que a oposição raivosa e ressentida que tanto combate os governos do PT tem demonstrado uma enorme incoerência quando faz uma força terrível para dizer ao povo que vai continuar com os programas que os governos petistas implantaram, já usaram até de melodrama para tentar o povo acreditar. Afinal o que eles querem? Se, segundo eles o país vai mal, porque esse esforço todo para dizer que vão continuar com os mesmos programas que eles tanto combatem? Para mim, eles estão a dizer implicitamente que continuar é o melhor caminho para o Brasil.

A sorte do nosso país e, sobretudo, dos mais necessitados está em nossas mãos!
Boa eleição!

Manoel Augusto Paes Nunes
Salvador - Bahia


BREVES REFLEXÕES SOBRE OS JUNHOS DA BAHIA


Acompanhei, nos últimos anos, os discursos e ações produzidos pela Secretaria do Turismo do Estado da Bahia, concernentes a sua atuação e objetivos no que respeita ao dito “resgate e revitalização dos festejos juninos no nosso estado”, discursos e ações que muito me preocuparam e, ainda, preocupam, antevendo, temeroso, a continuidade dessa política institucional equivocada, mais especialmente para o sertão da Bahia, recanto privilegiado das mais expressivas manifestações culturais populares.

Em primeiro lugar, penso que “resgate” (termo tantas vezes utilizado pelos representantes do referido órgão) não seja o mais apropriado para tratar do assunto. Mas, evidentemente, o que mais me incomoda e atemoriza, razão do que já se testemunhou em algumas cidades, foi a completa invasão de estilos e ritmos que nada traduzem ou contribuem para a justa valorização e a conseqüente visibilidade das genuínas expressões da cultura popular atrelada aos ditos festejos.

Inaceitável, no meu humilde entendimento, que “Ivetes Madeiradas”, “Bells Camaleônicos”, “Léos Rebolations”, “Psiricos”, “Fantasmões”, “Loirinhas Desnatadas”, “Evas sem Adão”, “Tomates Enjoativos”, “Durvais Mal-Coroados”, “Forrós Plastificados", enfim axés, pagodes e falsos forrós, alguns até de competências tão duvidosas, outros com seus intoleráveis apelos sexuais exibidos sob uma parafernália de sons e luzes, ocupem, de forma agressiva porque majoritária, os palcos principais e, da mesma forma, percebam os melhores cachês, o que resulta na inaceitável e revoltante exclusão dos cantadores e compositores sertanejos, dos sanfoneiros, dos tocadores de pé-de-bode e de pífaros, dos zabumbeiros, das quadrilhas juninas, dos cordelistas e poetas populares! Para estes últimos – que deveriam ser os mais solicitados e valorizados! - quando eventualmente contratados, são reservados os horários de menor ocorrência de público e os mais reles pagamentos pelos seus qualificados trabalhos. Ou seja, tem havido uma total e injusta inversão de valores!

Recentemente, apenas para citar um exemplo, causou-se indignação o desabafo de um grande mestre cantador da cultura popular sertaneja que, triste e revoltado, assim traduziu a sua desdita: “tive pouco tempo para tocar meu professor! Me apresentei acuado entre duas grandes bandas!”. Inteligente trocadilho (o grifo é para ressaltar mesmo!) que claramente traduz as contradições aqui apresentadas e que carecem, efetivamente, de imediata reação. Como se fosse um “enchimento de lingüiça”, assim se sentiu o compositor e cantador do sertão, o nosso querido Mestre Cavachão de Uauá, quando de sua apresentação “the flash” em sua própria cidade! Eis a preocupante realidade: entre as suntuosas apresentações das bandas “famosas” - cujos dançarinos mais encenam exercícios aeróbicos, coreografias sexuais dispensáveis e malabarismos circenses de mau gosto e cujos cantores mais gritam desafinados do que propriamente cantam -, timidamente e sob inaceitáveis pressões se apresentam os cantadores e músicos do cancioneiro popular sertanejo.

Tenho plena consciência de que a cultura é dinâmica, diversa, naturalmente renovadora nos seus passos e inovadora nas suas criações, que jovens artistas e suas produções rítmicas diferenciadas surjam e, conseqüentemente, enriqueçam o cenário cultural, considerando-se, inclusive, a propalada, porém pouco entendida e pouco respeitada, diversidade cultural baiana. Mais aceitável ainda que o “dito moderno” conviva com o “dito tradicional”. Cultura sempre foi e será movimento! Entretanto, sem exclusões e violentas descaracterizações!

Mas, a infeliz conjunção do desconhecimento e desrespeito pelas tradições culturais com a demagogia que esconde ambiciosos, escusos e interesses imediatistas, tanto dos setores privados (inclua-se, aqui, boa parte dos poderosos canais midiáticos), quanto de algumas autoridades públicas então constituídas, têm, na real, contribuído para este quadro inaceitável que hoje se pinta nos junhos baianos.

Roberto Dantas.





POEMA "SINAL DOS SINOS"




Dobraram os sinos da igreja,
o meu amor sem que eu veja
se foi num resto de olhar.
Filete de lágrima a derramar,
líquido frio em mim viceja
num crepúsculo de cor âmbar.

Terno silêncio do anoitecer,
ave-marias para acolher
as dores que residem em mim.
Perscruto o cheiro do alecrim,
penso no que pode acontecer
nessa noite crua sem fim.

A angústia da próxima hora,
a falta que vem e demora
inunda ao poço dos sentidos.
E os meus versos ressentidos
tingem de cinza a aurora
dos desejos incontidos.

Moça da voz pranteada,
face sedutora, iluminada,
boca que beija e aquece.
Tez que minha mão tece,
acariciando enamorada
num toque que enternece.

Calaram os sinos da velha igreja
e não há um olhar que seja
para além das torres paralelas.
Perdi-me nos becos e vielas,
na escuridão que vil enseja
as mais rudes querelas.

Roberto Dantas







SALVE "VEINHO SANFONEIRO" DE UAUÁ - BAHIA






"COMO É BOM PODER TOCAR UM INSTRUMENTO"
  (Caetano Veloso)












Este generoso e humilde cidadão, filho e pai de reconhecidos instrumentistas da abençoada "Terra dos Pirilampos", a histórica Uauá do sertão de Canudos, é o fraterno amigo Ranulfo Mendes Damasceno, mais conhecido como "Veinho Sanfoneiro".

Tive a honra de ser, com extrema fidalguia, recebido em sua acolhedora casa, mais especialmente ainda no seu "de fundo de quintal", recanto adorável em que este sanfoneiro de reconhecida categoria passa boa parte de seu tempo procedendo as suas leituras, inventando o que consertar e, é lógico, quando mais inspirado, ensejando, com maestria, acordes sensíveis em sua sanfona amiga. Na oportunidade, setembro próximo passado, tive a dileta companhia do também amigo, o artista plástico - "bico de pena" - e compositor Gildemar Sena, proprietário do aprazível Espaço Cultural Toque de Zabumba.

Veinho é mais um dos sertanejos que têm muitas histórias para contar e, sobretudo, muitos bons ensinamentos para, em face de sua humilde conduta e nata sabedoria, bem influenciar aos jovens instrumentistas do sertão e de outras tantas paragens, tal qual já fez e faz, cotidiana e carinhosamente, com os seus queridos filhos, os quais, como ele, também sanfoneiros: Rafael e Rennan Mendes.

Obrigado Veinho e vida longa para os seus belíssimos arroubos musicais!


(Registros: Kelle Nascimento)