terça-feira, 6 de novembro de 2018

QUAIS OS PASSOS?



Neste momento de incertezas e até de desânimos, àqueles que honestamente defendem – e entre estes humildemente me incluo - a legítima Democracia (Sim, D maiúsculo!), portanto o efetivo Estado Democrático de Direito e, em especial, aos que propugnavam por um governo que, respaldado nos votos dos cidadãos brasileiros, tivesse as suas premissas e ações basilares voltadas verdadeiramente para um programa de cunho social, defensor e proponente, dentre outras condutas, do respeito às diferenças e da igualdade de oportunidades, cabem lúcidas reflexões para o ensejo dos próximos e tão relevantes passos. E aqui me refiro não somente a nós eleitores ou aos fervorosos militantes, mas, principalmente, aos experientes políticos ainda portadores de seus legítimos mandatos e aos que, notívagos no parlamento, lograram êxito nas últimas eleições. Há de se ter inteligência, compromisso, coragem e serenidade!

Aos eleitores e militantes (destes, especialmente os radicais e céticos), penso que os primeiros passos sejam os da lucidez, os da recuperação da auto-estima e, renovados os sentimentos, seguirem adiante, respeitando-se o plural campo das idéias e, através de profícuos debates, exigirem a urgente autocrítica daqueles que, quando estavam assentados nos diversos cargos gestores das mais diferenciadas esferas governamentais, irresponsável ou imaturamente deixaram de propor e efetuar as políticas públicas programadas, prometidas e, obviamente, cabíveis; cobrarem daqueles que intransigentemente não exercitaram a boa arte da política, administrando o contraditório, pois que não acolheram ao exercício salutar e cotidiano do jogo democrático; cobrarem àqueles que, em face de seus escusos interesses, não primaram pela ética. Importante, sim, cobrarem tanto dos que tão somente deixaram roubar, quanto, e mais incisivamente, dos que se locupletaram das verbas públicas e participaram, direta ou indiretamente, das negociatas indutoras das propinas, práticas abomináveis que afinal a muitos seduziram e, com demasiado vigor, dilapidaram os chamados erário e patrimônio públicos. O que não mais cabem são condescendências!

Às representações eleitas do campo democrático, antigas e notívagas, feitas as imperativas autocríticas e as imparciais avaliações, o passo imediato é o de congregarem, com sensibilidade e altivez, nas suas variadas esferas de atuação política, a todos os autênticos democratas investidos das suas prerrogativas legislativas, portanto os seus próprios pares, propiciando, sem radicalismos ou atitudes virulentas, a imprescindível escuta e as consequentes parcerias. Há de ter diálogo!

Nesta mesma e imperativa cruzada, devem tais políticos socializar seus conquistados mandatos aos homens da cultura, aos devotados educadores, aos estudantes, aos produtivos escritores, aos artistas engajados, aos empresários de boa fé e de ilibada conduta, aos lídimos empregadores, aos jornalistas éticos e independentes, às representações dos diversos e atuantes coletivos legitimamente reconhecidos pelas suas árduas e incessantes lutas, enfim aos trabalhadores, criando-se uma ampla frente político-partidária, ancorada, dessa forma, nas iniciativas e propostas advindas da sociedade civil mobilizada, organizada, exercitando-se uma vigorosa, eficiente e referendada oposição àqueles que, agora postados nos poderes executivos ou atuantes nas casas legislativas, violem ou tentem exterminar os direitos dos cidadãos, muito especialmente, é claro, no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), pois que o desmanche do Estado e as destituições dos mais elementares direitos recentemente conquistados já vêm devastadoramente se dando no transcorrer desses sombrios, preocupantes e conflituosos dias.

O momento, não há dúvidas, é o de enxugar o choro, apartar o medo e respeitar os resultados do recente pleito eleitoral. Necessário superar os lamentos! Impreterível arregaçar as mangas e, sem titubeios, pactuar com as forças democráticas possíveis de serem fiéis parceiras e competentes protagonistas, representações eminentemente identificadas e sempre vinculadas ao chamado campo político democrático. O receituário: exigir-se o respeito à Constituição e à manutenção do regime democrático!

Penso que os honestos desabafos e os apaixonantes discursos, ainda que justos, fundamentados, esclarecedores e pautados pelas mais responsáveis intenções ou emanados das mais diligentes análises, carecem, entretanto, com a mesma intensidade e freqüência, das concretas ações políticas, as quais, repito, sejam consignadas pelas profícuas alianças, acolhendo-se àqueles que, através de seus partidos, de suas associações, de seus mais diferenciados grupos e instituições, de seus diversos ofícios laborais, possam efetivamente contribuir e agir irmanados aos objetivos precípuos de respectivamente repactuar as proposições democráticas e reeditar o exercício da saudável política. Não há mais espaço para a insensatez, reducionismos, desarmonias, disputas descartáveis, para conchavos de bastidores e muito menos para lesivas omissões e espúrias conveniências! Não cabem mais as cobranças pretéritas pontuais e paroquianas! O momento exige de todos nós, defensores das causas democráticas e das liberdades, da justiça social e da égide da cidadania, um profundo despojamento das nossas vaidades e um urgente apaziguamento dos nossos ressentimentos e ódios. Há de se reagir com sapiência! Urgem prementes e efetivas contribuições. Vibrantes e conscientes, as nossas vozes e atitudes carecem fazer História!

Prof. Roberto Dantas
Historiador


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

DESMASCARO











Há tantas máscaras desnudadas,
âmagos inimagináveis revelados.
Rudes dizeres, hoje, emanados
em faces, antes, melindradas.

Há, também, olhares enviesados,
expressões de atitudes disfarçadas.
Desculpas frágeis são vomitadas
sob pífios gestos obstinados.

Revelam-se as mentes embotadas,
proliferam-se brados alucinados.
Os meliantes agora bem postados
e as insídias, ao léu, convocadas.

São faces de uma tosca idolatria,
sintomas de degradante insanidade.
Surdez que sinaliza comodidade!
Cegueira flertando com a patifaria!

Por qual via transitará a verdade?
Ou em qual porto haverá calmaria?
Não há argumento e, sim, histeria
e que se dane toda a humanidade!

Acordes grotescos de uma sinfonia:
eis a triste canção deste presente.
Na madrugada o silêncio penitente.
E todos os medos ao raiar o dia!

R. DANTAS

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

DESARME-SE



Esta “arma” que acolhe os meus dizeres,
nesta bela e todavia nação convulsionada,
obviamente carece ser o primacial instrumento.
Artefato em que colhemos os bons saberes,
sobretudo se eticamente a ela for agregada
a plena liberdade de ação e de pensamento.

E neste dia então consagrado aos professores,
mensageiros da palavra e do conhecimento,
serenamente carecemos combater a casta.
Suprimir azedumes, violências e dissabores.
E como meu amigo poeta prega com talento:
às vezes, com amor, “meio poema basta”!

R. Dantas

sábado, 13 de outubro de 2018

A PALAVRA




A palavra, bem sei, pode se perder ao vento,
mas, se honesta, pode igualmente bem guiar.
Um saber, uma vivência, um aconselhamento.
A palavra, se ética, educa e sobrevive ao tempo,
levando-nos, não raro, à prática do pensar.

Assim, no livre processo de fala e escuta
produz-se o diálogo, norteia-se o caminhar.
Não importa tanto a qualidade da labuta.
A palavra, se verdadeira, concorda ou refuta
no seu rico e valioso ato de se revelar!

QUERIDOS AMIGOS


O momento, dadas as lamentáveis exacerbações, requer de todos nós serenidade, inteligência e, em especial, responsabilidade, pois que, a partir do nosso soberano ato de votar, seremos todos partícipes - ativos ou passivos, protagonistas ou coadjuvantes – do projeto resultante então sufragado nas urnas. Não há como fugir desse envolvimento! Necessário refletir e apartar a insânia dos caminhos! 

Há, de fato, um considerável descontentamento conduzindo as atitudes de boa parte dos eleitores brasileiros, razão, dentre tantos fatores, das inúmeras improbidades político-administrativas propugnadas pelos representantes dos últimos governos, ainda que estes representassem partidos concorrentes, não compartilhassem das mesmas ideologias ou destoassem em suas práticas políticas. Há traumas e desencantos que, lamentável e perigosamente, têm oportunizado as condutas extremistas, não raro cegando àqueles que, sem o zelo necessário e as ponderações cabíveis, perdem-se, agora,  em querelas irreconciliáveis. Ainda que, sob um sistema democrático, deva se respeitar aos pensamentos e opções de cada qual, imperativo será sempre o livre e transparente diálogo, portanto o exercício da escuta, o qual deva se dar sob a égide da paz e até do humilde aprendizado. Afinal, oponente, em política, não deve necessariamente significar inimigo!

Assim, hoje mais do que nunca, consideradas as graves circunstâncias, há de se proceder a uma boa escolha, a uma opção política que permita, sobretudo, uma mínima governabilidade; que viabilize, sem desvios ou rupturas, a continuidade do Estado Democrático de Direito. Escolha, portanto, balizada em possíveis governanças e pactos democráticos para muito além dos insuflados egos e dos vis individualismos, afastando-se a terrível probabilidade de um “terceiro turno”!

R.Dantas
Out. 2018

quinta-feira, 26 de julho de 2018

SEM RUMO














SEM RUMO

A grande onda quebrou aqui
deixando espumas nos meus pés.
Dureza de pedra e as chaminés
que não param de fumegar,
que desandam a embaçar
os olhares que já perdi.

Nu, gélido e meio faquir
ansiando pelos belos sonhos.
Torpeza de tragos medonhos
que não me deixa levantar,
que agride o meu pensar
e subverte o que há de vir.

Desnudo o elo do porvir
meditando sob vil repulsa.
Aspereza tenaz e avulsa
que não permite abraçar,
que violenta ao tragar
a alma que quer fulgir.

Para longe devo partir
claudicando em piso avesso.
Fraqueza e rude tropeço
que atropelam os caminhos,
que não apontam os ninhos
para a minha paz fluir.

Enfim um norte para seguir
pautando o rumo da quilha.
Sutileza de uma pobre ilha
que seduz e tanto acalma,
que conduz de corpo e alma
para o porto que quero ir.

R. Dantas
FACE: Bob Dantas




segunda-feira, 28 de maio de 2018

TRADUÇÃO













Persegue o homem, sob um cotidiano adverso, a tão sonhada paz interior. Cativo dos próprios sentidos e fustigado pelas banais incompreensões, perturba-se, angustiado, com o jogo ardiloso das acusações, filhas insensatas dos insidiosos ressentimentos.

Percebe o homem, neste insano desequilíbrio, as máculas que não se desmancham, as defesas e os absurdos promanados dos egos em lastimáveis excitações e com os quais necessita compartilhar. Tudo se diz e quase nada se escuta. Vestígios de corações permeados de insensatez, corações onde não cabem a serenidade e o indispensável desprendimento e com os quais o homem se depara e, em holocausto, oferece o seu.

As relações doentias, fundadas, sem prévio cuidado, nas disputas deletérias, em sua maioria descartáveis, conduzem os mais sublimes desejos para um abismo de difícil resgate. Teias de orgulhos e de cobranças que subvertem, sem zelos, os destinos anteriormente traçados. Quando o EU é o escudo e o olhar é tão somente para o umbigo, revela-se uma cega, agressiva e quase sempre injusta defesa. Conseqüentemente, distancia-se da razão.

Carente das sensibilidades, impaciente criatura a perscrutar os mais díspares e misteriosos amores, peleja o homem pelos meandros perigosos das afetividades, pontuados de surpresas, castigos e gozos, num interminável aprendizado de vida.
Qual ente em desatino perde-se em meio às armadilhas já concebidas, porque transeunte contumaz dos labirintos sedutores do querer. Pois que aí se confundem e se completam, num ir e vir turbulento, o vício desditoso e os prazeres incomensuráveis. Incrível que algo de belo e comovente, como se inadiável fosse, é sempre vivenciado.

O mel e o fel das efêmeras paixões circulam sobre órbita desprotegida em permanente transe. Nada que muito convença e tudo que pouco permanece. Compasso de longa espera e pulsos de frenética batida. Algo se aglutina ou se exclui num caminhar sem garantias de continuidade. Companheira freqüente apenas a contradição! Será o alimento?

Portanto, no instável transitar da vida, perseguirá o homem a paz ansiada e o equilíbrio merecido, mas sempre um homem conscientemente vulnerável, há um tempo rude e sensível, devotado aos clamores mais intestinos, pois que servo das emoções, espelho dos olhares e porque imprevisível nas reações. Homem que tanto anseia a calmaria e cuja necessidade é mesmo o movimento.

Roberto Dantas
FACE: Bob Dantas


sábado, 19 de maio de 2018

OUTRAS VEREDAS



 














Do amor fatiei um bocado
para florir este rude chão.
Tal como faz o coração
que, terno, pulsa compassado,
pulsei para compor a canção.

O nosso ninho nesse sertão
é ornado por serras e lajedos.
Tal como os doces e os azedos
que, sublimes, ensejam a paixão,
provei para espargir os medos.

Não há como livrar-se da poesia
para subverter aos vis desatinos.
Tal como os choros dos meninos
que, dengosos, viram arrelia,
arreliei ao modo dos viperinos.

Vulneráveis os anseios libertinos
jungidos aos poros embriagados.
Tal como os abandonos dos relegados
que, tristes, perdem seus tinos,
perdi-me pelos desejos abrasados.

Mas os tons aqui harmonizados
anunciam as querenças do amor.
Tal como nos versos sem dor
que, livres, são declamados,
esvurmei, só, a mácula da cor.

Assim enveredo sob surpresas
atadas a cada novo palmilhar.
Tal como o brilho de um olhar
que, sincero, mantém acesas
as aventuras do meu caminhar.

R.Dantas

VERTIGEM














Súbita vertigem, nós do querer,
laivos prementes da ansiedade.
Subvertida a lógica da idade,
conspurcados os atos de prazer.

Verbos nem sempre conjugados,
receios dos desejos intestinos.
Camuflados dizeres caninos,
visíveis liames subjugados.

Tons de acordes dissonantes,
cordas partidas sob pressão.
Quase sempre o temor do não,
fugas e sombras delirantes.

Não há mais vozes, há gritos,
rancores de uma fala insana.
Verborreia que rude profana
aos sentidos, gestos e ritos.

Assim fenece uma poesia,
assim se cala uma canção.
Assim se borra uma grafia,
assim perece um coração.

R.Dantas


LIVRES TRILHAS















Mirei o vôo errante da gaivota.
A trilha o meu instinto conduzirá.
Sem açoites, o vento me apontará
o rumo desconhecido dessa rota.
Não há pressa e não há desatino!
Mas um sonho, lívido, me guiará.
Alimento meu espírito de menino!

Carência de bem sentir este chão.
De desnudar os pés sobre a terra.
Feito uma rés que solitária erra
sem atinar qual será a direção.
Não há medo e não há correria!
Mas a visão de uma bela serra.
Trilhar já me é boa serventia!

Sigo na contramão do estipulado.
Desregramento da convenção social.
Para muito além do que seja trivial
farejar a natureza do outro lado.
Não há ódio e não há destemperanças!
Mas o desejo do que seja natural.
Sem receios, acolher as esperanças!

Passos, assim, prenhes de desafios.
Trilhas sem tantas regras a perseguir.
Jamais abrir mão desse ir e vir
garimpando pelas margens dos rios.
Não há dúvidas e não há ditames!
Mas o anseio de decidido partir.
Pular cercas sem temer aos arames!

R.Dantas




EXPURGO













Sair das teias revigorado,
desatar os nós corrompidos.
Sem receios dos tempos idos
apartar o ódio do carinho.
Ser da luz o abençoado.
Para todo passo dado
um novo e livre caminho.

Do mal gratuito desmembrado,
sorver o calor dos abraços.
Sem perder linhas e traços
edificar o seu terno ninho.
Ser da lua o namorado.
Para todo o passo dado
um novo e livre caminho.

À raiz manter-se atado,
preservar frutos e flores.
Sem medos dos dissabores
podar do caule o espinho.
Ser um tronco bem fincado.
Para todo o passo dado
um novo e livre caminho.

Dos olhos nus o contemplado,
cambiar sabores e sorrisos.
Sem regras e sem avisos
dar o beijo e beber do vinho.
Ser o sonho bem sonhado.
Para todo o passo dado
Um novo e livre caminho.

Nas águas ter navegado,
cachoeiras, lagos e rios.
Sem temer aos desvarios
purgar o caldo do moinho.
Ser um ente antenado.
Para todo o passo dado
Um novo e livre caminho.

R.Dantas

domingo, 22 de abril de 2018

REATIVO



Versejadas foram as breves frases,
fustigantes, diretas, quase nuas,
como se fossem ninhos querenciados,
tais os que nasci sem miséria ou luxo.
Hoje, pululando em inseguras bases,
transito, silente e solitário, pelas ruas,
pelejando por caminhos arriscados
sob um vai e vem; fluxo e refluxo!

O imediato da surpresa sempre ensina,
intrigante, ardiloso, quase intempestivo,
como se fosse um relâmpago inesperado,
tal o rebento consequente do trovão.
Não mais me conduzo vítima da sina,
sigo, indolente e calmo, mas reativo,
peregrinando como um ente herdado
sob artimanhas de uma viva paixão.

Versos, poesia, cantos, cantoria,
sedutores, sutis, quase inadiáveis,
como se fossem os carentes alimentos,
tais os suores prazerosos dos atos.
Hoje, adornando mais a fantasia,
incito, crente e cordato, os miáveis,
encorajando os seus afloramentos
sob uma algazarra de desacatos.

Eis, então, a promissora caminhada,
provedora-mor das ansiadas auroras,
como se fosse a imperativa oração,
tal o batismo para testas devotas.
Não mais derivo à beira da estrada,
conto, premente e sereno, as horas,
acarinhando o pulsar do coração
sob as mais impensáveis anedotas.

R. Dantas



REDESCOBRIR OS CAMINHOS



O ano era o de 1500. A data: 22 de abril. Portanto, são 518 anos que nos apartam do dito “descobrimento”. Confirmando, obviamente, suspeitas tanto provenientes de anteriores abordagens marítimas, quanto resultantes dos frequentes estudos náuticos, suspeitas atreladas, concomitantemente, às suas já reais dificuldades alusivas ao comércio das especiarias então encetado com as índias orientais, os portugueses aportaram nas terras do até, aquele momento, pouco imaginado imenso Brasil. Substituindo a uma relação, no início, enganosamente amistosa, logo se impôs outra fundamentada na vil escravização da gente do lugar – aos numerosos agrupamentos indígenas -; na imposição de um credo dominador – o católico -; na gananciosa exploração da natureza – a devastação das matas para a coleta do pau de tinta -; e no estabelecimento de uma forma autoritária de poder – a monárquico-hereditária. Os produtos? Ah! Previsíveis: escravidão e desrespeito às mais icônicas e sagradas expressividades da cultura e da religiosidade daquela gente encontrada e a transposição de um modo já historicamente corrompido do fazer político. Enfim, haveres, saberes, ambições, repressões, ódios, genocídio, exclusões e práticas até aquele “encontro” impensáveis nestas terras atlânticas.

Dentre outros não menos importantes desejos, o preâmbulo histórico acima rememorado tem como objetivo primacial não somente relembrar as injustiças e calamidades aqui protagonizadas, no alvorecer do século XVI, pelo dominador europeu. Mas, certamente, considerando os dias conturbados que hoje se sucedem, razão do quadro político-social igualmente impensável há poucos anos atrás, proceder-se a um chamamento e a uma inteligente reação!

Há de se refletir sobre por quais mentes e mãos, falas e escritos, atos e contra-atos, este processo de deterioração política, nos últimos anos, ganhou forma e se estabeleceu. Ou seja, quais foram e quais são os atores protagonistas – sejam os afiliados da vasta, diferenciada e incongruente composição partidária e os das mais insanas claques políticas; sejam os seus ativos comparsas alocados nos mais inescrupulosos agrupamentos empresariais - desse absurdo teatro de horrores? Quais foram e quais são os atores coadjuvantes, estes irmanados com os primeiros do “grande” elenco apenas por interesses mesquinhos e por falsas moralidades, sinalizando, no entanto, serem muito mais co-atores míopes ou perdidamente alienados! E quem, de fato, compõe a imensa e, talvez, vitimada platéia que, até o presente momento, no que pese a gravidade do “espetáculo”, ainda não se expressou a contento!

Feitas as devidas e prementes reflexões, amainadas as paixões deletérias, descartados os insanos radicalismos, desprezados os ódios e os reles patrulhamentos, sobretudo sem quaisquer subversões à ordem democrática que necessariamente embasa o tão desejado e, às vezes, pouco concebido Estado de Direito, há de se buscar, através do livre e freqüente diálogo, os imperativos entendimentos, resgatando-se o debate político, a necessária e competente representatividade parlamentar, jogando-se, sem subterfúgios e com transparência, o jogo naturalmente democrático da política, criando-se, por conseguinte, os cenários pertinentes, ocupando-se os palcos legítimos (que não são necessariamente os Judiciários!), nos quais, tanto a política quanto a democracia sejam, portanto, os reais protagonistas. As ruas também podem e devem ser, considerados seus naturais direitos reivindicatórios, imprescindíveis espaços para as mais livres expressividades! Os embates são de idéias e em prol dos entendimentos!

Enfim, conscientes e atuantes, os brasileiros não podem agora abrir mão da sua interação com a preocupante realidade. E, para tão breve, com aquela consciência e com os seus atos independentes, não podem vacilar com o valioso instrumento - certamente inegociável! - do voto. E eis que já tão próximo está o pleito eleitoral!

Roberto Dantas
Historiador/Documentarista

quarta-feira, 18 de abril de 2018


MINÚSCULO

Solitário, pensei no mote dos versos
que humildemente queria rabiscar.
Apartando-me dos elos perversos,
das ânsias e dos zelos adversos,
desenhei no papel uma flor singular.

Das pétalas frágeis, pois quebradiças,
extraí um não sei o quê de nostalgia.
Isolando-me das vãs e vis cobiças,
das injúrias que geram injustiças,
expurguei da pena qualquer vilania.

Preencheram, leves, meus pensamentos
a correnteza do rio e o nédio crepúsculo.
Recebi, absorto, os gratos emolumentos.
E tal quando se afinam os instrumentos,
compus, silencioso, o poema minúsculo.

Palavras, sei, às vezes logo perdidas,
ou nem sempre fielmente escutadas.
Das digressões rudes e entorpecidas,
ou das escritas vulgarmente paridas,
emanam as pobres leituras algemadas.

Mas em mim ejaculam-se os sentidos,
espargidos, nus, da cara honestidade.
Daí o rabisco da flor da humildade
em forma de poucos versos cingidos
pela ternura e pela mais digna vontade!

Nas noites frias recolho as mensagens
das mil estrelas, da lua e da calmaria.
Lembro as mais intrigantes paisagens,
parceiras das minhas iteradas viagens
em que enriqueço toda a caligrafia.

Há a face tão docemente observada
e os toques para uma divinal carícia.
Pelo íntimo das vestes é contemplada
a musa aqui carinhosamente versada
sob os mimos da conduta pudicícia.

Os desejos de uma harmônica troca
induzem ao procedimento reservado.
Aos olhares uma ternura se evoca
e no abraço o calor bem provoca
a concessão do sentido desvelado.

E a flor então se ergue fortalecida
ilibada das máculas mal curadas.
Do próprio perfume é embevecida,
inebriando quando sutil é despida
em meio as ânsias estimuladas.

Que seja, assim, o desvelar desse ato,
um ímã à mais sublime sensibilidade.
Talvez outro possa ser o desiderato
para acolher ao real ou até ao boato.
A minha nem sempre é a pura verdade!

R.Dantas