quarta-feira, 18 de abril de 2018


MINÚSCULO

Solitário, pensei no mote dos versos
que humildemente queria rabiscar.
Apartando-me dos elos perversos,
das ânsias e dos zelos adversos,
desenhei no papel uma flor singular.

Das pétalas frágeis, pois quebradiças,
extraí um não sei o quê de nostalgia.
Isolando-me das vãs e vis cobiças,
das injúrias que geram injustiças,
expurguei da pena qualquer vilania.

Preencheram, leves, meus pensamentos
a correnteza do rio e o nédio crepúsculo.
Recebi, absorto, os gratos emolumentos.
E tal quando se afinam os instrumentos,
compus, silencioso, o poema minúsculo.

Palavras, sei, às vezes logo perdidas,
ou nem sempre fielmente escutadas.
Das digressões rudes e entorpecidas,
ou das escritas vulgarmente paridas,
emanam as pobres leituras algemadas.

Mas em mim ejaculam-se os sentidos,
espargidos, nus, da cara honestidade.
Daí o rabisco da flor da humildade
em forma de poucos versos cingidos
pela ternura e pela mais digna vontade!

Nas noites frias recolho as mensagens
das mil estrelas, da lua e da calmaria.
Lembro as mais intrigantes paisagens,
parceiras das minhas iteradas viagens
em que enriqueço toda a caligrafia.

Há a face tão docemente observada
e os toques para uma divinal carícia.
Pelo íntimo das vestes é contemplada
a musa aqui carinhosamente versada
sob os mimos da conduta pudicícia.

Os desejos de uma harmônica troca
induzem ao procedimento reservado.
Aos olhares uma ternura se evoca
e no abraço o calor bem provoca
a concessão do sentido desvelado.

E a flor então se ergue fortalecida
ilibada das máculas mal curadas.
Do próprio perfume é embevecida,
inebriando quando sutil é despida
em meio as ânsias estimuladas.

Que seja, assim, o desvelar desse ato,
um ímã à mais sublime sensibilidade.
Talvez outro possa ser o desiderato
para acolher ao real ou até ao boato.
A minha nem sempre é a pura verdade!

R.Dantas

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