domingo, 22 de abril de 2018

REDESCOBRIR OS CAMINHOS



O ano era o de 1500. A data: 22 de abril. Portanto, são 518 anos que nos apartam do dito “descobrimento”. Confirmando, obviamente, suspeitas tanto provenientes de anteriores abordagens marítimas, quanto resultantes dos frequentes estudos náuticos, suspeitas atreladas, concomitantemente, às suas já reais dificuldades alusivas ao comércio das especiarias então encetado com as índias orientais, os portugueses aportaram nas terras do até, aquele momento, pouco imaginado imenso Brasil. Substituindo a uma relação, no início, enganosamente amistosa, logo se impôs outra fundamentada na vil escravização da gente do lugar – aos numerosos agrupamentos indígenas -; na imposição de um credo dominador – o católico -; na gananciosa exploração da natureza – a devastação das matas para a coleta do pau de tinta -; e no estabelecimento de uma forma autoritária de poder – a monárquico-hereditária. Os produtos? Ah! Previsíveis: escravidão e desrespeito às mais icônicas e sagradas expressividades da cultura e da religiosidade daquela gente encontrada e a transposição de um modo já historicamente corrompido do fazer político. Enfim, haveres, saberes, ambições, repressões, ódios, genocídio, exclusões e práticas até aquele “encontro” impensáveis nestas terras atlânticas.

Dentre outros não menos importantes desejos, o preâmbulo histórico acima rememorado tem como objetivo primacial não somente relembrar as injustiças e calamidades aqui protagonizadas, no alvorecer do século XVI, pelo dominador europeu. Mas, certamente, considerando os dias conturbados que hoje se sucedem, razão do quadro político-social igualmente impensável há poucos anos atrás, proceder-se a um chamamento e a uma inteligente reação!

Há de se refletir sobre por quais mentes e mãos, falas e escritos, atos e contra-atos, este processo de deterioração política, nos últimos anos, ganhou forma e se estabeleceu. Ou seja, quais foram e quais são os atores protagonistas – sejam os afiliados da vasta, diferenciada e incongruente composição partidária e os das mais insanas claques políticas; sejam os seus ativos comparsas alocados nos mais inescrupulosos agrupamentos empresariais - desse absurdo teatro de horrores? Quais foram e quais são os atores coadjuvantes, estes irmanados com os primeiros do “grande” elenco apenas por interesses mesquinhos e por falsas moralidades, sinalizando, no entanto, serem muito mais co-atores míopes ou perdidamente alienados! E quem, de fato, compõe a imensa e, talvez, vitimada platéia que, até o presente momento, no que pese a gravidade do “espetáculo”, ainda não se expressou a contento!

Feitas as devidas e prementes reflexões, amainadas as paixões deletérias, descartados os insanos radicalismos, desprezados os ódios e os reles patrulhamentos, sobretudo sem quaisquer subversões à ordem democrática que necessariamente embasa o tão desejado e, às vezes, pouco concebido Estado de Direito, há de se buscar, através do livre e freqüente diálogo, os imperativos entendimentos, resgatando-se o debate político, a necessária e competente representatividade parlamentar, jogando-se, sem subterfúgios e com transparência, o jogo naturalmente democrático da política, criando-se, por conseguinte, os cenários pertinentes, ocupando-se os palcos legítimos (que não são necessariamente os Judiciários!), nos quais, tanto a política quanto a democracia sejam, portanto, os reais protagonistas. As ruas também podem e devem ser, considerados seus naturais direitos reivindicatórios, imprescindíveis espaços para as mais livres expressividades! Os embates são de idéias e em prol dos entendimentos!

Enfim, conscientes e atuantes, os brasileiros não podem agora abrir mão da sua interação com a preocupante realidade. E, para tão breve, com aquela consciência e com os seus atos independentes, não podem vacilar com o valioso instrumento - certamente inegociável! - do voto. E eis que já tão próximo está o pleito eleitoral!

Roberto Dantas
Historiador/Documentarista

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