O
ano era o de 1500. A
data: 22 de abril. Portanto, são 518 anos que nos apartam do dito
“descobrimento”. Confirmando, obviamente, suspeitas tanto provenientes de
anteriores abordagens marítimas, quanto resultantes dos frequentes estudos
náuticos, suspeitas atreladas, concomitantemente, às suas já reais dificuldades
alusivas ao comércio das especiarias então encetado com as índias orientais, os
portugueses aportaram nas terras do até, aquele momento, pouco imaginado imenso
Brasil. Substituindo a uma relação, no início, enganosamente amistosa, logo se
impôs outra fundamentada na vil escravização da gente do lugar – aos numerosos
agrupamentos indígenas -; na imposição de um credo dominador – o católico -; na
gananciosa exploração da natureza – a devastação das matas para a coleta do pau
de tinta -; e no estabelecimento de uma forma autoritária de poder – a
monárquico-hereditária. Os produtos? Ah! Previsíveis: escravidão e desrespeito
às mais icônicas e sagradas expressividades da cultura e da religiosidade
daquela gente encontrada e a transposição de um modo já historicamente
corrompido do fazer político. Enfim, haveres, saberes, ambições, repressões,
ódios, genocídio, exclusões e práticas até aquele “encontro” impensáveis nestas
terras atlânticas.
Dentre
outros não menos importantes desejos, o preâmbulo histórico acima rememorado
tem como objetivo primacial não somente relembrar as injustiças e calamidades
aqui protagonizadas, no alvorecer do século XVI, pelo dominador europeu. Mas,
certamente, considerando os dias conturbados que hoje se sucedem, razão do
quadro político-social igualmente impensável há poucos anos atrás, proceder-se
a um chamamento e a uma inteligente reação!
Há
de se refletir sobre por quais mentes e mãos, falas e escritos, atos e
contra-atos, este processo de deterioração política, nos últimos anos, ganhou
forma e se estabeleceu. Ou seja, quais foram e quais são os atores
protagonistas – sejam os afiliados da vasta, diferenciada e incongruente
composição partidária e os das mais insanas claques políticas; sejam os seus
ativos comparsas alocados nos mais inescrupulosos agrupamentos empresariais - desse
absurdo teatro de horrores? Quais foram e quais são os atores coadjuvantes,
estes irmanados com os primeiros do “grande” elenco apenas por interesses
mesquinhos e por falsas moralidades, sinalizando, no entanto, serem muito mais co-atores
míopes ou perdidamente alienados! E quem, de fato, compõe a imensa e, talvez,
vitimada platéia que, até o presente momento, no que pese a gravidade do
“espetáculo”, ainda não se expressou a contento!
Feitas
as devidas e prementes reflexões, amainadas as paixões deletérias, descartados
os insanos radicalismos, desprezados os ódios e os reles patrulhamentos, sobretudo
sem quaisquer subversões à ordem democrática que necessariamente embasa o tão desejado
e, às vezes, pouco concebido Estado de Direito, há de se buscar, através do
livre e freqüente diálogo, os imperativos entendimentos, resgatando-se o debate
político, a necessária e competente representatividade parlamentar, jogando-se,
sem subterfúgios e com transparência, o jogo naturalmente democrático da
política, criando-se, por conseguinte, os cenários pertinentes, ocupando-se os
palcos legítimos (que não são
necessariamente os Judiciários!), nos quais, tanto a política quanto a
democracia sejam, portanto, os reais protagonistas. As ruas também podem e
devem ser, considerados seus naturais direitos reivindicatórios,
imprescindíveis espaços para as mais livres expressividades! Os embates são de
idéias e em prol dos entendimentos!
Enfim,
conscientes e atuantes, os brasileiros não podem agora abrir mão da sua
interação com a preocupante realidade. E, para tão breve, com aquela
consciência e com os seus atos independentes, não podem vacilar com o valioso instrumento
- certamente inegociável! - do voto. E eis que já tão próximo está o pleito
eleitoral!
Roberto Dantas
Historiador/Documentarista
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