Persegue o homem, sob
um cotidiano adverso, a tão sonhada paz interior. Cativo dos próprios sentidos
e fustigado pelas banais incompreensões, perturba-se, angustiado, com o jogo
ardiloso das acusações, filhas insensatas dos insidiosos ressentimentos.
Percebe o homem, neste
insano desequilíbrio, as máculas que não se desmancham, as defesas e os
absurdos promanados dos egos em lastimáveis excitações e com os quais necessita
compartilhar. Tudo se diz e quase nada se escuta. Vestígios de corações permeados
de insensatez, corações onde não cabem a serenidade e o indispensável desprendimento e
com os quais o homem se depara e, em holocausto, oferece o seu.
As relações doentias,
fundadas, sem prévio cuidado, nas disputas deletérias, em sua maioria
descartáveis, conduzem os mais sublimes desejos para um abismo de difícil
resgate. Teias de orgulhos e de cobranças que subvertem, sem zelos, os destinos
anteriormente traçados. Quando o EU é o escudo e o olhar é tão somente para o
umbigo, revela-se uma cega, agressiva e quase sempre injusta defesa.
Conseqüentemente, distancia-se da razão.
Carente das
sensibilidades, impaciente criatura a perscrutar os mais díspares e misteriosos
amores, peleja o homem pelos meandros perigosos das afetividades, pontuados de
surpresas, castigos e gozos, num interminável aprendizado de vida.
Qual ente em desatino
perde-se em meio às armadilhas já concebidas, porque transeunte contumaz dos
labirintos sedutores do querer. Pois que aí se confundem e se completam, num ir
e vir turbulento, o vício desditoso e os prazeres incomensuráveis. Incrível que
algo de belo e comovente, como se inadiável fosse, é sempre vivenciado.
O mel e o fel das
efêmeras paixões circulam sobre órbita desprotegida em permanente transe. Nada
que muito convença e tudo que pouco permanece. Compasso de longa espera e
pulsos de frenética batida. Algo se aglutina ou se exclui num caminhar sem
garantias de continuidade. Companheira freqüente apenas a contradição! Será o
alimento?
Portanto, no instável
transitar da vida, perseguirá o homem a paz ansiada e o equilíbrio merecido,
mas sempre um homem conscientemente vulnerável, há um tempo rude e sensível,
devotado aos clamores mais intestinos, pois que servo das emoções, espelho dos
olhares e porque imprevisível nas reações. Homem que tanto anseia a calmaria e
cuja necessidade é mesmo o movimento.
Roberto
Dantas
FACE: Bob Dantas