Neste momento de incertezas e até de desânimos, àqueles
que honestamente defendem – e entre estes humildemente me incluo - a legítima Democracia (Sim, D maiúsculo!), portanto o efetivo Estado Democrático de Direito e,
em especial, aos que propugnavam por um governo que, respaldado nos votos dos
cidadãos brasileiros, tivesse as suas premissas e ações basilares voltadas verdadeiramente
para um programa de cunho social, defensor e proponente, dentre outras
condutas, do respeito às diferenças e da igualdade de oportunidades, cabem
lúcidas reflexões para o ensejo dos próximos e tão relevantes passos. E aqui me
refiro não somente a nós eleitores ou aos fervorosos militantes, mas,
principalmente, aos experientes políticos ainda portadores de seus legítimos
mandatos e aos que, notívagos no parlamento, lograram êxito nas últimas
eleições. Há de se ter inteligência, compromisso, coragem e serenidade!
Aos eleitores e militantes (destes, especialmente os
radicais e céticos), penso que os primeiros passos sejam os da lucidez, os da
recuperação da auto-estima e, renovados os sentimentos, seguirem adiante,
respeitando-se o plural campo das idéias e, através de profícuos debates, exigirem
a urgente autocrítica daqueles que, quando estavam assentados nos diversos
cargos gestores das mais diferenciadas esferas governamentais, irresponsável ou
imaturamente deixaram de propor e efetuar as políticas públicas programadas,
prometidas e, obviamente, cabíveis; cobrarem daqueles que intransigentemente
não exercitaram a boa arte da política, administrando o contraditório, pois que
não acolheram ao exercício salutar e cotidiano do jogo democrático; cobrarem
àqueles que, em face de seus escusos interesses, não primaram pela ética.
Importante, sim, cobrarem tanto dos que tão somente deixaram roubar, quanto, e
mais incisivamente, dos que se locupletaram das verbas públicas e participaram,
direta ou indiretamente, das negociatas indutoras das propinas, práticas
abomináveis que afinal a muitos seduziram e, com demasiado vigor, dilapidaram os
chamados erário e patrimônio públicos. O que não mais cabem são
condescendências!
Às representações eleitas do campo democrático, antigas e
notívagas, feitas as imperativas autocríticas e as imparciais avaliações, o passo
imediato é o de congregarem, com sensibilidade e altivez, nas suas variadas esferas
de atuação política, a todos os autênticos democratas investidos das suas
prerrogativas legislativas, portanto os seus próprios pares, propiciando, sem
radicalismos ou atitudes virulentas, a imprescindível escuta e as consequentes parcerias. Há de ter diálogo!
Nesta mesma e imperativa cruzada, devem tais políticos socializar
seus conquistados mandatos aos homens da cultura, aos devotados educadores, aos
estudantes, aos produtivos escritores, aos artistas engajados, aos empresários
de boa fé e de ilibada conduta, aos lídimos empregadores, aos jornalistas
éticos e independentes, às representações dos diversos e atuantes coletivos
legitimamente reconhecidos pelas suas árduas e incessantes lutas, enfim aos
trabalhadores, criando-se uma ampla frente político-partidária, ancorada, dessa
forma, nas iniciativas e propostas advindas da sociedade civil mobilizada, organizada,
exercitando-se uma vigorosa, eficiente e referendada oposição àqueles que, agora
postados nos poderes executivos ou atuantes nas casas legislativas, violem ou
tentem exterminar os direitos dos cidadãos, muito especialmente, é claro, no
Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), pois que o
desmanche do Estado e as destituições dos mais elementares direitos
recentemente conquistados já vêm devastadoramente se dando no transcorrer desses
sombrios, preocupantes e conflituosos dias.
O momento, não há dúvidas, é o de enxugar o choro, apartar
o medo e respeitar os resultados do recente pleito eleitoral. Necessário superar
os lamentos! Impreterível arregaçar as mangas e, sem titubeios, pactuar com as
forças democráticas possíveis de serem fiéis parceiras e competentes protagonistas,
representações eminentemente identificadas e sempre vinculadas ao chamado campo
político democrático. O receituário: exigir-se o respeito à Constituição e à
manutenção do regime democrático!
Penso que os honestos desabafos e os apaixonantes discursos,
ainda que justos, fundamentados, esclarecedores e pautados pelas mais
responsáveis intenções ou emanados das mais diligentes análises, carecem, entretanto,
com a mesma intensidade e freqüência, das concretas ações políticas, as quais,
repito, sejam consignadas pelas profícuas alianças, acolhendo-se àqueles que,
através de seus partidos, de suas associações, de seus mais diferenciados
grupos e instituições, de seus diversos ofícios laborais, possam efetivamente contribuir
e agir irmanados aos objetivos precípuos de respectivamente repactuar as
proposições democráticas e reeditar o exercício da saudável política. Não há
mais espaço para a insensatez, reducionismos, desarmonias, disputas
descartáveis, para conchavos de bastidores e muito menos para lesivas omissões
e espúrias conveniências! Não cabem mais as cobranças pretéritas pontuais e
paroquianas! O momento exige de todos nós, defensores das causas democráticas e
das liberdades, da justiça social e da égide da cidadania, um profundo
despojamento das nossas vaidades e um urgente apaziguamento dos nossos
ressentimentos e ódios. Há de se reagir com sapiência! Urgem prementes e
efetivas contribuições. Vibrantes e conscientes, as nossas vozes e atitudes
carecem fazer História!
Prof. Roberto Dantas
Historiador