domingo, 16 de maio de 2021

 VOLÚPIA

 

Tal um dolo casual,

apartei de mim o receio.

Atingi, sem zelo, o seio

da minha ânsia natural.

 

Sobrepus egos intratáveis,

em meio à borrasca insana.

Meus lençóis sujos na cama

desnudam atos profanáveis.

 

À cada caminho a surpresa,

à cada passo o inesperado.

Finda a noite e o dia chegado,

eis as cartas sobre a mesa.

 

Ah! Volúpia dos desenganos!

Ah! Destempero sem noção!

Os olhos distantes do coração.

E os dizeres crus e profanos.

 

R. Dantas

 

SER

 

Um ódio feito agulha,

que frio a nada orgulha,

ferindo a benção de ter.

Tóxico de quem é pulha,

com o lixo se entulha,

unindo corjas no poder.

 

Um ódio feito fagulha,

que néscio rude atulha,

ungindo de sombras o crer.

Pródiga a fé debulha,

com a crença bem vasculha,

unindo o crer com o ser.

 

R. DANTAS

terça-feira, 6 de novembro de 2018

QUAIS OS PASSOS?



Neste momento de incertezas e até de desânimos, àqueles que honestamente defendem – e entre estes humildemente me incluo - a legítima Democracia (Sim, D maiúsculo!), portanto o efetivo Estado Democrático de Direito e, em especial, aos que propugnavam por um governo que, respaldado nos votos dos cidadãos brasileiros, tivesse as suas premissas e ações basilares voltadas verdadeiramente para um programa de cunho social, defensor e proponente, dentre outras condutas, do respeito às diferenças e da igualdade de oportunidades, cabem lúcidas reflexões para o ensejo dos próximos e tão relevantes passos. E aqui me refiro não somente a nós eleitores ou aos fervorosos militantes, mas, principalmente, aos experientes políticos ainda portadores de seus legítimos mandatos e aos que, notívagos no parlamento, lograram êxito nas últimas eleições. Há de se ter inteligência, compromisso, coragem e serenidade!

Aos eleitores e militantes (destes, especialmente os radicais e céticos), penso que os primeiros passos sejam os da lucidez, os da recuperação da auto-estima e, renovados os sentimentos, seguirem adiante, respeitando-se o plural campo das idéias e, através de profícuos debates, exigirem a urgente autocrítica daqueles que, quando estavam assentados nos diversos cargos gestores das mais diferenciadas esferas governamentais, irresponsável ou imaturamente deixaram de propor e efetuar as políticas públicas programadas, prometidas e, obviamente, cabíveis; cobrarem daqueles que intransigentemente não exercitaram a boa arte da política, administrando o contraditório, pois que não acolheram ao exercício salutar e cotidiano do jogo democrático; cobrarem àqueles que, em face de seus escusos interesses, não primaram pela ética. Importante, sim, cobrarem tanto dos que tão somente deixaram roubar, quanto, e mais incisivamente, dos que se locupletaram das verbas públicas e participaram, direta ou indiretamente, das negociatas indutoras das propinas, práticas abomináveis que afinal a muitos seduziram e, com demasiado vigor, dilapidaram os chamados erário e patrimônio públicos. O que não mais cabem são condescendências!

Às representações eleitas do campo democrático, antigas e notívagas, feitas as imperativas autocríticas e as imparciais avaliações, o passo imediato é o de congregarem, com sensibilidade e altivez, nas suas variadas esferas de atuação política, a todos os autênticos democratas investidos das suas prerrogativas legislativas, portanto os seus próprios pares, propiciando, sem radicalismos ou atitudes virulentas, a imprescindível escuta e as consequentes parcerias. Há de ter diálogo!

Nesta mesma e imperativa cruzada, devem tais políticos socializar seus conquistados mandatos aos homens da cultura, aos devotados educadores, aos estudantes, aos produtivos escritores, aos artistas engajados, aos empresários de boa fé e de ilibada conduta, aos lídimos empregadores, aos jornalistas éticos e independentes, às representações dos diversos e atuantes coletivos legitimamente reconhecidos pelas suas árduas e incessantes lutas, enfim aos trabalhadores, criando-se uma ampla frente político-partidária, ancorada, dessa forma, nas iniciativas e propostas advindas da sociedade civil mobilizada, organizada, exercitando-se uma vigorosa, eficiente e referendada oposição àqueles que, agora postados nos poderes executivos ou atuantes nas casas legislativas, violem ou tentem exterminar os direitos dos cidadãos, muito especialmente, é claro, no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), pois que o desmanche do Estado e as destituições dos mais elementares direitos recentemente conquistados já vêm devastadoramente se dando no transcorrer desses sombrios, preocupantes e conflituosos dias.

O momento, não há dúvidas, é o de enxugar o choro, apartar o medo e respeitar os resultados do recente pleito eleitoral. Necessário superar os lamentos! Impreterível arregaçar as mangas e, sem titubeios, pactuar com as forças democráticas possíveis de serem fiéis parceiras e competentes protagonistas, representações eminentemente identificadas e sempre vinculadas ao chamado campo político democrático. O receituário: exigir-se o respeito à Constituição e à manutenção do regime democrático!

Penso que os honestos desabafos e os apaixonantes discursos, ainda que justos, fundamentados, esclarecedores e pautados pelas mais responsáveis intenções ou emanados das mais diligentes análises, carecem, entretanto, com a mesma intensidade e freqüência, das concretas ações políticas, as quais, repito, sejam consignadas pelas profícuas alianças, acolhendo-se àqueles que, através de seus partidos, de suas associações, de seus mais diferenciados grupos e instituições, de seus diversos ofícios laborais, possam efetivamente contribuir e agir irmanados aos objetivos precípuos de respectivamente repactuar as proposições democráticas e reeditar o exercício da saudável política. Não há mais espaço para a insensatez, reducionismos, desarmonias, disputas descartáveis, para conchavos de bastidores e muito menos para lesivas omissões e espúrias conveniências! Não cabem mais as cobranças pretéritas pontuais e paroquianas! O momento exige de todos nós, defensores das causas democráticas e das liberdades, da justiça social e da égide da cidadania, um profundo despojamento das nossas vaidades e um urgente apaziguamento dos nossos ressentimentos e ódios. Há de se reagir com sapiência! Urgem prementes e efetivas contribuições. Vibrantes e conscientes, as nossas vozes e atitudes carecem fazer História!

Prof. Roberto Dantas
Historiador


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

DESMASCARO











Há tantas máscaras desnudadas,
âmagos inimagináveis revelados.
Rudes dizeres, hoje, emanados
em faces, antes, melindradas.

Há, também, olhares enviesados,
expressões de atitudes disfarçadas.
Desculpas frágeis são vomitadas
sob pífios gestos obstinados.

Revelam-se as mentes embotadas,
proliferam-se brados alucinados.
Os meliantes agora bem postados
e as insídias, ao léu, convocadas.

São faces de uma tosca idolatria,
sintomas de degradante insanidade.
Surdez que sinaliza comodidade!
Cegueira flertando com a patifaria!

Por qual via transitará a verdade?
Ou em qual porto haverá calmaria?
Não há argumento e, sim, histeria
e que se dane toda a humanidade!

Acordes grotescos de uma sinfonia:
eis a triste canção deste presente.
Na madrugada o silêncio penitente.
E todos os medos ao raiar o dia!

R. DANTAS

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

DESARME-SE



Esta “arma” que acolhe os meus dizeres,
nesta bela e todavia nação convulsionada,
obviamente carece ser o primacial instrumento.
Artefato em que colhemos os bons saberes,
sobretudo se eticamente a ela for agregada
a plena liberdade de ação e de pensamento.

E neste dia então consagrado aos professores,
mensageiros da palavra e do conhecimento,
serenamente carecemos combater a casta.
Suprimir azedumes, violências e dissabores.
E como meu amigo poeta prega com talento:
às vezes, com amor, “meio poema basta”!

R. Dantas

sábado, 13 de outubro de 2018

A PALAVRA




A palavra, bem sei, pode se perder ao vento,
mas, se honesta, pode igualmente bem guiar.
Um saber, uma vivência, um aconselhamento.
A palavra, se ética, educa e sobrevive ao tempo,
levando-nos, não raro, à prática do pensar.

Assim, no livre processo de fala e escuta
produz-se o diálogo, norteia-se o caminhar.
Não importa tanto a qualidade da labuta.
A palavra, se verdadeira, concorda ou refuta
no seu rico e valioso ato de se revelar!

QUERIDOS AMIGOS


O momento, dadas as lamentáveis exacerbações, requer de todos nós serenidade, inteligência e, em especial, responsabilidade, pois que, a partir do nosso soberano ato de votar, seremos todos partícipes - ativos ou passivos, protagonistas ou coadjuvantes – do projeto resultante então sufragado nas urnas. Não há como fugir desse envolvimento! Necessário refletir e apartar a insânia dos caminhos! 

Há, de fato, um considerável descontentamento conduzindo as atitudes de boa parte dos eleitores brasileiros, razão, dentre tantos fatores, das inúmeras improbidades político-administrativas propugnadas pelos representantes dos últimos governos, ainda que estes representassem partidos concorrentes, não compartilhassem das mesmas ideologias ou destoassem em suas práticas políticas. Há traumas e desencantos que, lamentável e perigosamente, têm oportunizado as condutas extremistas, não raro cegando àqueles que, sem o zelo necessário e as ponderações cabíveis, perdem-se, agora,  em querelas irreconciliáveis. Ainda que, sob um sistema democrático, deva se respeitar aos pensamentos e opções de cada qual, imperativo será sempre o livre e transparente diálogo, portanto o exercício da escuta, o qual deva se dar sob a égide da paz e até do humilde aprendizado. Afinal, oponente, em política, não deve necessariamente significar inimigo!

Assim, hoje mais do que nunca, consideradas as graves circunstâncias, há de se proceder a uma boa escolha, a uma opção política que permita, sobretudo, uma mínima governabilidade; que viabilize, sem desvios ou rupturas, a continuidade do Estado Democrático de Direito. Escolha, portanto, balizada em possíveis governanças e pactos democráticos para muito além dos insuflados egos e dos vis individualismos, afastando-se a terrível probabilidade de um “terceiro turno”!

R.Dantas
Out. 2018