A casa visceralmente traduzia um passado ao mesmo tempo
glamoroso e dolorido. Por mais que a saudade desvele um legado de paixões e
prazeres, justamente por isso ela cruelmente confirma, no presente, sob o
domínio insidioso das ausências, a impossibilidade de reviver. E, aí,
naturalmente ganham vida as lancinantes lembranças.
Enlevado por tais reflexões, bicando, homeopaticamente, o
seu vinho seco, inseparável companheiro das longas horas noturnas, e embalado
pelo lento vai e vem de sua gasta cadeira de varanda, Artur era visitado por múltiplas
imagens e mergulhava em dramáticas viagens. Nesses momentos de melancolia e soberana
solidão, em que só a memória conduz aos pensamentos, era impossível o controle das
lágrimas.
A chuva fina entoava um dissonante ressoar de pingos,
desenhando poças que logo se desfaziam para dar lugar a outras diferenciadas,
conformando novos traçados no amplo terreiro. De quando em vez, Artur ouvia,
absorto, ruídos de portas mal fechadas ou repentinos estalidos de madeira, como
se os espíritos dos antepassados ou até mesmo a centenária mesa em que estes -
quando de suas últimas encarnações aqui na terra - costumavam prazerosamente comer
e muito prosear ali também requisitassem, saudosos, a sua histórica presença.
Artur, que no passado recente desempenhara as funções de
coletor-chefe, quando praticamente vivia a bordo das locomotivas da Viação
Férrea Leste Brasileira, palmilhando uma infinidade de pequenas cidades e
bucólicas vilas, realidade benfazeja que lhe proporcionou muitas amizades em
diferentes localidades visitadas, agora, ali sentado e só em sua antiga e
aprazível vivenda, às margens do São Francisco, nas Alagoas de Graciliano Ramos,
maturava suas derradeiras noites devorando livros e vinhos, mas, sobretudo, ceifado
por caras recordações. Desquitado, também não tivera filhos de seu efêmero e
polêmico casório.
Fazia pouco mais de dois meses, premido por tais
lembranças e, certamente, desejando ocupar-se de algo que lhe tolhesse o tempo,
talvez mesmo por ter completado setenta anos de labutas e alegrias, finalmente
decidira escrever suas memórias. Doutor Clementino Dias - seu médico
particular, com quem, todavia, mais conversava amigavelmente do que
verdadeiramente se consultava -, muito lhe cobrava essa tarefa e exultou ao
saber da decisão de Artur envidá-la. Encargo para o qual se dizia despreparado,
apesar de sempre produzir belos textos quando assim a necessidade o premia. Após
longas madrugadas de insônia, regadas a vinhos e lágrimas, negociando com a insistente
modéstia para se reconhecer um bom escriba, são estas as lembranças que
ensejaram o relato a seguir e eu, como seu único e último amigo, as socializo
para o devido conhecimento.
“Breves
Reminiscências”. Piranhas, setembro de 1954
Escrevo, ainda, sob
os impactos do suicídio do nosso polêmico e rechonchudo presidente. Fácil
imaginar a conturbação e, sobretudo, o carregado sentimento lutuoso que devem
ter tomado conta das ruas da belíssima capital federal, em razão do dramático
passamento do idolatrado ditador de Bagé. Permanecerá entre nós o varguismo?
Arriscado qualquer precipitado palpite! Certamente mais fácil é conceber o
remorso e os receios cruciantes de seus ferrenhos opositores, dos quais aqui
logo me vem ao pensamento a figura controversa e agitada do jornalista Carlos
Lacerda, grande amigo e correligionário de meu já falecido pai. Que o grande
séquito de viúvas getulistas não lhe venha no encalço e, assim, uma nova
tragédia não se dê nessa República de erros!
Esta minha casa que ainda
hoje me acolhe, vazia e tão cheia de ecos, quase que tocada pelas misteriosas
águas do querido “Velho Chico”, guardiã de segredos inconfessáveis, vivenda em
que me fiz homem, naturalmente me induz para que, através desses claudicantes
escritos, produza o que aqui alcunho de “Breves Reminiscências”. Ao fazê-los,
assim especulo, consumirei considerável tempo do meu solitário cotidiano,
ocupando-me, portanto, de algo produtivo, além de alimentar-me com as lembranças
ditosas de alguns acontecimentos. Contudo, do mesmo modo, intenciono exorcizar
sentimentos e fantasmas que até hoje me acometem e me causam aflição. Julgo que
assim procedendo não deixarei morrer comigo boa parte da história dessa querida
e antes tão luminosa morada. Que seja realmente produtiva a viagem!
Lembro-me bem – Oh Deus!
Que lembrança tão real! -, do dia em que aqui pisei pela primeira vez. Era a véspera
do natal de 1900. Dada a singularidade da data, que obviamente proveria a todos
nós um novo século, os videntes de plantão profetizavam, como de costume, as
suas irremediáveis catástrofes e muitos indivíduos, seduzidos pelos seus mais
distintos credos e debilitadas instruções, criam na proximidade do juízo final.
Havia somente uma semana que eu
completara os meus 15 anos. Éramos seis: meu pai, minha mãe, minha doce e frágil
irmã, Dona Santa e sua filha, e eu. Família relativamente pequena em relação à
média de filhos que naqueles dias nasciam nestes rincões nordestinos.
Trazidos pela rude
balsa, após belíssimo passeio pelo rio, vindos de Poço Redondo, Sergipe, ficamos,
minha Irmã e eu, maravilhados com a beleza da casa, sobretudo encantados com o
seu jardim e sua espaçosa varanda, pois que apenas para nós dois, como um
presente especial de natal, nossos pais haviam escondido aquele novo destino. Júlia,
minha irmã, e Serena, a filha de Dona Santa, nossa babá e cozinheira, tinham 10
anos. E para fomentar aquele iniciante fascínio, constituindo-se num garboso
cartão de boas vindas, deu-se para o infinito das águas do histórico rio um
crepúsculo por nós jamais testemunhado. Desembarque prazeroso. Pôr do sol
magnífico. Dia realmente inesquecível.
A primeira noite na
casa do rio – pois assim passamos a carinhosamente chamá-la – foi de deliciosa
aventura. Ainda sem camas, curtimos as estrelas cintilando na amplidão,
inebriados pela brisa da madrugada até quando o sono nos venceu na acolhedora
varanda que à vivenda abraça de ponta a ponta, dando-lhe graça e vida. E logo
no primeiro amanhecer, tomados por inusitado entusiasmo, cuidamos de a tudo
limpar e de pôr ordem no que estava embalado, carecendo, portanto, de uso
imediato. Dos brinquedos aos livros, das panelas aos lençóis, do faqueiro as
toalhas, enfim, tudo asseado e devidamente acondicionado. Lembro-me, em
especial, da dificuldade de meus pais para fixarem adequadamente o imponente relógio
na parede principal da sala de jantar, relíquia dos tempos de meu bisavô
paterno, instrumento que ainda hoje escuto as suas sonoras badaladas, ecoadas
ao meio dia, às dezoito horas e à meia noite, sinalizadoras, respectivamente, dos
momentos de fome, da Ave Maria e dos limites da vigília.
No belíssimo jardim,
cuja grama mamãe mantinha sempre verdinha e aparada, logo cuidamos – as três
crianças extasiadas - de improvisar o balanço no tronco do cajueiro e de
plantar as sementes das pitangas que ansiávamos chupá-las sem demora. Também as
meninas trataram de edificar sob a frondosa mangueira, que ficava um pouco mais
afastada da construção, a delicada casinha de adobe e coberta de palhas secas,
na qual acomodaram as suas prediletas bonecas de pano, seus estojos coloridos
de maquiagem, dois pequenos espelhos e duas bancadas de madeira. Ali pertinho
de nós, majestoso, corria o rio dos nossos banhos diários, curtidos, sempre,
sob a supervisão rigorosa de Anastácio, o já idoso caseiro que meu pai
contratara na cidade, logicamente a ele bem recomendado. Tornou-se, sem dúvida,
a casa dos nossos sonhos. Tornar-se-ía, também, na carona das circunstâncias do
tempo, palco e cenário de alguns dissabores em sua longeva e rica existência.
Como primeira e
inesquecível lembrança – ao menos para mim -, recordo do meu primeiro beijo.
Sim! Foi na casa do rio que beijei a minha primeira e proibida paixão: Serena. Para
nosso azar, o gesto debutante teve uma indesejável testemunha! Os padrões da
época não aceitavam e até violentamente reagiam acaso um filho de patrão
namorasse, ou muito pior desejasse desposar uma descendente dos empregados, fossem
eles encarregados de quaisquer funções. Intimidade que, por mais amável que
fosse a relação entre os envolvidos, como de fato se dava entre meus pais e a
nossa tão querida Dona Santa, era rigorosamente cerceada! Esta honesta e sempre
disponível criatura, muito mais do que uma babá e cozinheira, por todos nós era
considerada como um ente da família, verdadeiramente amada. Grávida e abandonada
pelo marido infiel, Dona Santa trabalhara anteriormente na casa da minha avó
materna. Após o falecimento desta, foi acolhida por minha mãe que carecia mesmo
de alguém de confiança e que soubesse cozinhar para tomar conta de seu primeiro
filho recém-nascido, este, portanto, que aqui, tomado por caras recordações e
surpreendente coragem, penosamente escreve.
Vi Serena nascer
muito animado pela coincidência do seu aparecimento no mundo ter se dado exatamente
no dia em que eu completava cinco anos. Foi uma festança na nossa ex-morada, lá
em Poço Redondo, quando meu pai, o austero Doutor Antenor Borges, me deu o mais
querido e saudoso presente que até aquele dia já ganhara: um livrinho de
páginas em branco, a ele acoplado uma belíssima caneta prateada. Disse-me ele
com imenso carinho: “aqui está o livro de sua vida, onde escreverá com esta
bela caneta tudo o que gostar, que acontece e acontecerá de agora em diante”.
Passados, apenas, três meses de uso diário daquele presente, justamente pelo
fato dele não me separar, o perdi para a correnteza do rio, pois que num
passeio de canoa desequilibrei-me e caí na água, tendo o adorado livrinho e sua
caneta perecidos no mistério daquelas águas escurecidas. Triste fim. Perda
bastante sentida.
Torna-se,
entretanto, destacar que quando alcançamos - Júlia, Serena e eu -
respectivamente as idades de oito e treze anos, então matriculados numa nova
escola em Poço Redondo, contraímos boas amizades com alguns meninos, ainda que
houvesse – eu em relação a elas - relativa diferença entre nossas idades. Neste
notívago grupelho, um galego de nome Fausto, de dez anos, cujo apelido
pretensioso era “Bonzão”, logo criaria asas para Serena. Todos perceberam. Eu,
sem tanto perceber, me incomodei. Inicialmente me enganei e tentei enganar, sem
sucesso, aos demais amigos, usando como desculpa para a minha reprovação ao
assédio do sujeitinho convencido a reação certamente violenta de meu pai, acaso
ficasse sabendo de alguma coisa existente entre eles. Mas, de fato, sentia
ciúmes e, assim, logo entendi que já olhava Serena de outro modo, sempre
desejando estar próximo, às vezes até querendo beijá-la e já imaginando seus
lábios tão bem feitos grudados aos meus. Sonhei com isso durante muito tempo,
já que me faltava coragem para materializar o sonho e, conseqüentemente,
confessar o meu mal disfarçado desejo.
Num final de tarde,
quando deixávamos a escola – na oportunidade, Júlia, por estar resfriada e o
céu muito carregado, permanecera em casa -, fomos, Serena e eu, colhidos por
violento temporal, o que nos fez correr para a varanda de um sítio abandonado
que distava, apenas, uns quinhentos metros da nossa chácara. Ao clarão do raio
sobreveio um forte estrondo do trovão, o que levou naturalmente Serena aos meus
braços, guiada pelo medo. Ao sentir aquele abraço que tanto desejava, fiz-lhe
carinho na face e lhe disse que não se preocupasse e nem temesse, pois nada nos
aconteceria e ali estava para protegê-la. Seus olhos brilharam e, aí, sem que
eu previsse ser aquele o momento tantas vezes por mim ensaiado e nunca
consumado, confessei meus sentimentos e beijei-lhe timidamente a sua face
morena, apertando ao meu tronco aquela linda e bronzeada criatura. Para minha
surpresa e indescritível alegria, ela não somente agradeceu, como, também, mais
fortemente atrelou seus braços aos meus. Inesquecível momento. Ditosa sensação
de bem querer.
Com o passar dos
dias a minha paixão por Serena foi se tornando cada vez mais transparente, o que
fez Júlia questionar os meus sentimentos. Admiti para minha irmã que estava
sofrendo muito e ela, mais preocupada com a indigesta reação dos nossos pais do
que propriamente com o meu sofrimento, aconselhou-me o imediato afastamento de Serena
e “que não desse mais bandeira”. Dali em diante Júlia sempre condenaria meus desejos, afastando-me
sempre que podia dos encontros e passeios, o que muito me contrariou e nos
trouxe alguns breves conflitos.
No entanto, logo
saberíamos da nossa mudança de Poço Redondo para Piranhas e isso me trouxe
relativo alento, pois, além de me ocupar com os preparativos para a dita
mudança, esquecendo um pouco as minhas aflições, fiquei satisfeito pelo fato de
Serena ficar definitivamente livre das garras daquele galego impertinente. E
não perdi a chance de, na véspera de minha definitiva partida de Poço Redondo, desabafar
meus rancores dizendo àquele sujeitinho que, além de sua aparência me lembrar
um coelho empapuçado, dados os dentões disformes que logo se insinuavam ao mínimo
sorriso, o odor de seu suor era mais incômodo do que murrinha de bode velho. E
o interessante é que ele não entendeu bem aquela agressão e calado se escafedeu.
Rude galego!
Uma vez mais a tempestade
daria a oportunidade, a mim e a Serena, de definitivamente revelarmos a paixão
recolhida. Nas águas do Velho Chico os clarões fantasmagóricos dos raios
produziam imagens tenebrosas. Nossos pais haviam saído para a reunião quinzenal
da Paróquia e Júlia cedo adormecera. Amedrontados diante daquela borrasca,
perscrutávamos a chuvarada da varanda. A ela relembrei do temporal por nós
vivenciado em Poço Redondo e de novo confessei meus sentimentos. Naquela noite
de nova tormenta, aproximei-me e peguei em suas mãos que estavam frias. Seus
olhos sinalizaram-me aquiescência. Aí, ansioso, apliquei-lhe ardente beijo, que
me foi, com a mesma intensidade, retribuído. Era o meu primeiro beijo! Era o
dela também! E mais gostoso ainda porque se dava na nossa casa do rio. Ali
demos início ao nosso relacionamento afetivo. Preocupados, antes mesmo de trocarmos
novo e demorado beijo e de nos apartarmos daquela varanda, combinamos que
apenas confessaríamos o namoro à Júlia, de quem julgávamos contar com a
necessária cumplicidade e o imperioso apoio. Namoro a ser castigado e proibido
pelos nossos pais acaso a estes fosse dado conhecimento. Todavia, como
ingenuamente pensamos, não estávamos naquela varanda, sob os ditames da
ventania, a sós!
Dona Santa, temerosa
em razão das chuvas torrenciais e, mais ainda, assombrada com a vilania dos cortantes
raios clareando as águas do rio, a tudo testemunhara da porta da cozinha, de
onde, cuidadosamente escondida, derramou lágrimas já prevendo o desacerto que
causaríamos em sua vida a partir daquele nosso indevido envolvimento.
Pressentiu que ali terminaria a sua vivência e, logicamente, a de sua filha,
naquela família que as adotara e para a qual tanto tempo se dedicaram com
lealdade.
Dolorida e
incompreensível a notícia, logo no entardecer do dia seguinte, repassada pelos
nossos desconfiados pais, dando-nos ciência de que Dona Santa e Serena, para
incompreensão deles, inconformidade de Júlia e profunda tristeza minha,
partiriam definitivamente da nossa casa, tendo para tal decisão a alegação da
morte de uma irmã da adorada e prestativa cozinheira que, em face da referida tragédia,
carecia urgentemente acolher aos seus sobrinhos tornados órfãos. Assim, em dois
dias nos deixariam e, sem mais palavras, rogavam a nossa difícil compreensão.
Desesperado, saí sem
rumo perambulando as margens do rio, chutando as águas e bradando aos céus
minha revolta diante daquela aterradora notícia. Vários planos desatinados
passaram por minha cabeça atribulada, pois não poderia permitir a partida de
Serena. Seqüestrá-la? Mas, para qual destino? Dadas as nossas idades e sendo eu
filho de quem era, a nossa fuga certamente não lograria êxito. Cansado e
trêmulo, sentei sob a meia sombra de uma umburana de cheiro e copiosamente
chorei. Somente dei-me conta do tempo que já havia desaparecido de casa quando
ouvi meu nome ser repetida e desesperadamente chamado pelo velho Anastácio, que
fazia algum tempo me procurava pelas redondezas, a mando de meu pai. O caseiro
astuto e experiente, sem que eu nada lhe revelasse, aproximou-se e acariciou os
meus cabelos, dizendo-me com terna serenidade: “não se avexe tanto meu jovem. O
tempo a tudo cura e o amanhã somente a Deus pertence. Tenha fé que tudo
passará”.
Tal qual o primeiro
beijo, a partida de Serena marcou-me profundamente. Foi como se um pedaço de
mim tivesse sido extirpado, deixado de existir e o brilho da casa do rio houvesse
perecido. Senti no coração uma sensação de vazio indescritível. Jamais esqueci
o seu olhar de derrota a me fitar na hora da partida e, em sua face delicada de
menina, vi, pela última vez, escorrer as lágrimas que, na verdade, choravam a
nossa comum e cruel tristeza. Passariam quase dez anos para que eu, uma vez
mais visitado pelas surpresas da vida, fitasse novamente Serena. Foi num baile
de carnaval em Maceió, igualmente numa noite de chuva, que a vi dançando
alegremente no meio do salão. Meu coração pareceu despregar do peito e sair
pela boca. Estatelado, senti meus pés presos ao piso e permaneci feito uma
estátua a observá-la nervosa e silenciosamente. Quando, enfim, decidi abordá-la,
vi um sujeito bem apessoado tomá-la nos braços, beijá-la desbragadamente e
levá-la, sorridente, para a outra extremidade do salão. Em dois minutos já
estava na rua, tomando o caminho do hotel, onde, dissecando minha angústia, derramei
sentidas lágrimas e padeci longa e sofrida insônia.
Nesta noite de
tristes lembranças lembrei das sábias reflexões de um jovem frei, constantes de
sua nobre obra: “Só o tempo, que não corre ao sabor da nossa
pressa, restitui certos episódios as suas reais dimensões, suturando os
corações, arejando as mentes das paixões, definhando o ódio na medida em que
renasce, alvíssara, a força promissora da esperança”.
Mas a casa do rio
também me propiciaria bons momentos. Nela celebrei o meu ingresso, mediante nota
máxima, no Curso de Administração. Noite de regalos inesquecíveis e de
discursos apoteóticos, especialmente os que meu pai protagonizou, tomado de
exacerbado orgulho em face do feito conquistado pelo seu primogênito. Por
indicação prestigiosa dele, assumi o posto de escriturário na Ferrovia e, sem
delongas, tornei-me Coletor-Chefe. Aposentei-me, tempos depois, ainda saudável
e com aquela sensação de dever cumprido.
Também me recordo do
dia em que meu pai, reafirmando o seu grande prestígio de líder político,
trouxe para nossa casa ninguém menos do que o jovem jornalista, polêmico e
ambicioso político Carlos Lacerda, o mais agressivo opositor do então presidente
Getúlio Vargas. Meados dos anos quarenta e o mandatário-mor da Nação
excursionava pelo sertão. Lacerda, na cola de suas pegadas, também se fez
presente em algumas capitais nordestinas e, como de costume, disparava sua
metralhadora verbal contra o presidente. Foi uma noite memorável na casa do
rio. Uma plêiade de políticos compareceu em nossa vivenda, oportunidade em que
a indicação do nome de meu pai foi por toda aquela ilustre camarilha
referendada para concorrer a uma cadeira na Câmara Federal. Noite de
beberagens, acaloradas discussões e promessas de mudanças políticas. PSD, UDN,
PTB e, com menor cacife, o PCB envidavam suas disputas e buscavam a maioria dos
votos dos brasileiros. Nestas ocasiões eu sentia pena de minha mãe, Dona
Bentinha, que se esbaldava nos preparativos para bem recepcionar toda a
comitiva de notáveis e, dessa forma, agradar a meu pai. E uma envolvente e bem
executada valsa foi garbosamente encenada na grande sala desta nossa acolhedora
casa do rio.
Outra partida,
entretanto, me acometeria de maus presságios. Minha frágil irmã, que desde seu
nascimento padecia de problemas respiratórios, acometida por mais uma grave
crise asmática, numa madrugada de aflições, partiria de casa para tratamento
emergencial na capital, de onde não mais voltaria. Júlia, internada durante
longos três meses, tendo seus combalidos pulmões deixado de funcionar, veio a
óbito sem sequer completar seus trinta anos. Sua doença era pelos meus pais ocultada,
irracionalmente minimizada. Todavia, todos desconfiavam da fragilidade de sua
saúde. Novamente imperaram as convenções tão descartáveis dos ditos padrões
sociais. Hoje, sem receios, ainda que atrasadamente, eu posso confidenciar
nestes escritos tanta insensatez nesta casa vivenciada. Perda irreparável. Um
pouco da vida de minha mãe também se foi.
As mortes de meus
pais, apesar de dolorosamente sentidas, tiveram as suas tristes ocorrências de
acordo com a obviedade do tempo. Ambos faleceram velhos e colhidos por
enfermidades aceitáveis. Minha mãe - que nascera, inclusive, um ano antes que
meu pai -, dada a sua diabetes crônica e a gula incontrolável por doces, foi
por essa indigesta enfermidade ceifada aos sessenta e cinco anos, deixando
apenas por mais três anos meu pai numa viuvez comovente. Este, por sua vez,
desde a juventude padecia crises insuportáveis de gota, razão dos altos níveis
de ácido úrico no seu organismo. Assim como mamãe, o velho não se cuidava e a
falência dos rins contribuiu decisivamente para o seu falecimento. Esta casa,
quando de seu velório, uma vez mais ficaria pequena para acolher a tantos
políticos e correligionários, além da parentela agregada que aqui se fez
presente e, tal qual se dera no dia da minha formatura, muitos e logicamente
mais dramáticos foram os discursos proferidos. Quando retornei do sepultamento
dei-me conta de que, além do empregado e amigo Dorival, apenas eu havia na casa
sobrevivido, ali vulnerável ao abraço gélido da solidão.
Entretanto, do
velório de meu pai nunca esqueci as palavras hilárias do nosso prefeito Gibão,
homem criado na roça, inveterado bebedor de cachaça e que muito patinava com o
plural das palavras, sendo seus discursos maculados pelos erros verbais, os
quais, para seu azar, foram rebatidos pelo folclórico bêbado Januário. Protestando
os seus leais sentimentos à figura do líder falecido, assim se expressou ao pé
do esquife:
PREFEITO GIBÃO: “pode partir tranqüilo
meu caro Antenor! Pode arribá lá pra riba que Deus está a guiá nós todo sem a
sua ilustre presença, pois somo mesmo bastantemente maió do que tudo. E por falar
em tudo, tudo mesmo o sinhô fez por esta nossa Piranha adorável, Piranha que
segue uma vida agora ilibada porque pelo sinhô foi bem encaminhada. Acabosse os
tempo ruim das rua enlamiada do pobre Bairro da Palha, apois foi vosmicê que
aterrô-las e calçô-las”.
E, aí, o nosso
atarantado Januário, cambaleante, esbravejou:
JANUÁRIO: Êpa! Oh homi doidô!
Falando nos meio dessas madame de rôla e calçóla! Valheme Santo Deus! Me sirva
uma cachaça aí mô fio!
Impossível era não
rir, ainda que mascaradamente, diante de tão instigante palavrório! O prefeito
Gibão, a todos surpreendendo, também faleceria apenas uma semana após o
passamento de meu pai. E a nossa Vila de Piranhas vestiu-se de luto,
particularmente o povo freqüente das rudes tabernas da feira e, mais
especialmente ainda, os pobres moradores do Bairro da Palha. Januário? Este
infelizmente foi barrado no velório.
Vi-me só, neste
charmoso e imenso casarão, após a partida de meu pai. Até esqueci de aqui dizer
que o velho Anastácio, já cego de um olho, havia, pouco antes da morte de minha
mãe, nos deixado e retornado para o seu torrão natal, alegando, com justa
razão, que desejava morrer na companhia de seus filhos crescidos, lá na sua
amada Serrinha. Tomou o trem e nunca
mais tivemos qualquer notícia deste honesto trabalhador. Em seu lugar, para
minha sorte, aqui chegou o já citado Dorival, a quem chamo “Coringa”. Trata-se
de um interessante cidadão, dotado de inteligência e bom humor, funcionário polivalente
e que até hoje se constitui na minha única companhia nesta casa, diria mesmo
meu anjo da guarda. Tornou-se, como não poderia deixar de ser, um grande amigo.
Todavia, haveria uma
noite inesquecível nesta casa, na qual eu vivenciaria rudes aflições. Refiro-me
a noite da festa prévia e efusivamente agendada para a celebração do meu
indesejado casamento.
Conheci a senhorita
Tereza Cristina da Silva Raposo num baile em que meu pai - o sempre ditador das
minhas condutas - fez questão para que eu a cortejasse. Logo entenderia aquele
desejo paternal. A criatura em questão era a única filha do velho fazendeiro
Diógenes Raposo, correligionário de meu pai e, como este, bastante respeitado e
autoritário. Tereza até que inicialmente me impressionou, no que pese o seu
jeito de “menina bicho do mato”, pois que vivia recolhida em sua rica
propriedade, razão da rígida criação de seu pai, o qual, como aliás todos os
senhores daquela época faziam, dava como únicas opções para a sua mimada e
casta filha a de casar com o marido por ele escolhido, ou, a isto se negando, arrumar
as malas e tomar o caminho dramático do convento.
Após dançarmos e
pouco conversarmos sobre assuntos banais, nos despedimos ante a promessa de meu
pai de visitarmos ao Coronel Raposo – pois assim era alcunhado – na semana
seguinte. E para aquela imponente fazenda, situada nas proximidades da Vila de
Penedo, fomos todos: meu pai, minha mãe e minha adoentada irmã, que inclusive
padeceria por lá séria crise asmática. Tinha eu apenas 23 anos.
Para minha inditosa
surpresa, meu pai, após ingerir três taças de vinho pediu, em meu nome, mas sem
me consultar, a mão da tímida e assustada moça em casamento. Silêncio
constrangedor, apenas rompido pela risada prazerosa do Coronel Raposo que, além
de conceder a sua filha para o requisitado matrimônio, ergueu sua taça de vinho
e conclamou a todos para um entusiasmado brinde. Brindaram e beberam ao meu
futuro casório ante a minha cara de paisagem!
A partir daquela
noite de compromisso tive que não apenas suportar as ameaças de meu pai em
resposta às minhas de tudo interromper, mas, do mesmo modo, somando-se a tal
estado beligerante em casa, conviver com a dramática chantagem a mim
direcionada pelo Doutor Antenor em relação ao estado avançado da enfermidade de
minha mãe, que, tal como ele, tanto ansiava por aquele casamento de encomenda.
Vivia dia e noite matutando como escapar daquela cilada sem contar, entretanto,
com qualquer solidariedade. Júlia, coitada, cada vez mais frágil em função de
sua asma crônica, pouco se intrometia e eu, logicamente, evitava aborrecê-la
com o meu drama.
Instado pelo Coronel
Raposo, obviamente com a concordância de meu pai, tive que logo noivar e, por
isso mesmo, freqüentar mais regularmente a casa da minha passiva noiva. É que as
famílias ditas de ilibada reputação de Piranhas tinham que testemunhar todo
aquele processo ser moral e obrigatoriamente cumprido: namoro, noivado,
casamento. E, é claro, sob os auspícios imperiosos da virgindade feminina!
Devo confessar:
Tereza Cristina não me causava nenhum torpor e até percebia que ela tentava me
cativar o máximo possível. Naturalmente muito mais conversávamos do que
namorávamos, até porque cometer qualquer ato indecoroso antes do casório era
algo passível de ser violentamente reprovado. O medo das conseqüências inibia
aos instintos. Porém, com o passar dos dias - o casório fora marcado para o
período de seis meses, dando-se tempo hábil para os preparativos necessários –,
aqueles encontros foram se tornando enfadonhos para mim e creio, até, para ela
também. Tereza logo percebeu a minha pouca vontade para não somente me fazer
presente em sua casa, mas percebera, sobretudo, que aquele casamento não era
por mim desejado.
Para encurtar a
história, o casamento se deu numa noite de sábado, no dito mês das noivas, em
maio de 1907. A
casa do rio encheu-se de convidados e até o Bispo se fez presente para celebrar
o casamento dos abastados e assustados jovens alagoanos. Noite realmente
inesquecível e digna de constar nas páginas dos romances melodramáticos.
Após a cerimônia
religiosa, decidi que, em razão das minhas concessões, inclusive do meu futuro aos
caprichos de meu pai, que beberia desregradamente, querendo com isso demonstrar
a minha revolta, ou mesmo buscando, através dos naturais efeitos do álcool, esquecer,
ainda que temporariamente, tudo aquilo que ali se dava e que só a mim dizia
respeito, causando-me dores e receios torturantes.
Conhaques, cachaças
e vinhos integraram gulosamente o meu cardápio etílico. Tendo me livrado do
fraque com o qual, aborrecido, me casei e arregaçado as mangas de minha camisa
de seda branca, o que logicamente contrariou as convenções do Doutor Antenor,
sem qualquer cerimônia, puxei indistintamente para dançar todas as mulheres,
casadas ou não, que estivessem ao alcance dos meus braços bêbados. No início –
pois assim me relatou detalhadamente Júlia no dia seguinte – até que todos
riram da minha pretensa alegria. Mas os gestos exacerbados que propositadamente
encenava ao tomar nos braços aquelas mulheres empertigadas foram, aos poucos,
gerando antipatias, que viraram facilmente reprovações. Dançava sem estilos,
tanto quanto gritava palavras repreensíveis. Das cafungadas nos cangotes frios das
Senhôras aos ousados beliscões nas nádegas mornas das Senhoritas, passaria, sem
controle, a imprudentemente recitar rudes versos que causariam inveja ao
polêmico poeta baiano, Gregório de Matos Guerra, o alcunhado “Boca do Inferno”.
Ninguém ali conseguira frear meus vis impulsos.
Meu pai, para sua infelicidade
e, certamente, para minha também, não suportando mais o meu agressivo
espetáculo, pegando-me grosseiramente pelo braço, tentou me retirar do salão,
justamente no instante em que flertava com a esposa desajeitada do obtuso prefeito,
este também já fartamente embriagado, convidando-a para mais uma dança
extravagante. A minha reação intempestiva a todos surpreendeu e, como não poderia
deixar de ser, muito mais o meu pai que, descontrolado, foi interceptado pelos
amigos que estavam mais próximos, pois que seu gesto logo sinalizou uma
agressão física a ser contra mim direcionada. Rapidamente a turma do “deixa -
disso” acalmou os ânimos.
Neste momento de
incômodo conflito, enlevado, sem dúvida, pelos efeitos do álcool, produzi o meu
insano desabafo, ervurmando, sem zelos, toda a purulenta angústia que tanto me
importunava. Assim, veementemente espargi meus sentimentos fazia tanto tempo
reprimidos, dada a severa e castradora postura de meu pai para com sua família
e, em particular, para com seus dois filhos. Ninguém, nem minha mãe, que rogava
meu silêncio, me fez calar. Ali eu finalmente transbordava a minha revolta,
vomitava meus recalques, mas eu sobremaneira expelia do meu coração atormentado
as mágoas dolorosamente sufocadas, tal qual a larva de uma devastadora erupção
vulcânica. Nada e nem ninguém me calaria naquela noite mal encenada.
Recambiado para meu
quarto, onde praticamente desmaiei ao ser na cama despojado, dormi o sono
turbulento dos atormentados e acordei com a consciência pesada dos que cometem,
sob os efeitos insanos do álcool, irreparáveis desatinos. Somente neste momento
lembrei-me de Tereza e que, apesar do triste espetáculo por mim protagonizado, era
um homem oficialmente casado.
Saberia horas depois
que minha tímida e assustada esposa fora levada de volta pelo seu irado pai
para sua casa, sob os protestos veementes do encolerizado Doutor Antenor. Velhos
amigos que ali iniciariam em conseqüência de suas autoritárias vontades e,
logicamente, também, em razão dos meus atos insanos, um período de impensáveis
dissensões e desagradáveis cobranças em sua antes sólida e fraterna amizade. O
bom disso tudo – ao menos uma vez julgo pertinente o meu egoísmo – é que meu
casamento sequer celebraria o primeiro ano de existência. Tereza, por acertada
decisão e sincera vontade, retornaria para o seio de sua família, porém
ganharia, sem demora, como absurda punição o seu internamento num convento de
propalada reputação na capital baiana.
Com a velhice de
meus pais e a necessidade de sempre estar ausente de casa para atender as
prerrogativas da minha profissão, percorrendo, por seqüenciados períodos de
tempo, várias localidades do estado, vivenciei, finalmente, a liberdade por mim
tanto ansiada. E, aí, dei início, e os mantive pelas madrugadas e auroras de
etílicas vigílias, aos meus agitados e acalorados casos amorosos. Granjeei fama
e causei conflitos inomináveis. Muito amei e muito enganei. E, após as partidas
derradeiras de meus pais, protagonizei aqui, nesta casa de sonhos e tragédias,
cenas ardentes e, às vezes até, reprováveis com algumas de minhas adoráveis e
celeradas musas.
Para que tais
experiências afetivas não passem ao largo nestes escritos que aqui
corajosamente produzo, lembrarei de duas seletas moçoilas com as quais tive a
cara de pau e a engenhosidade de mantê-las, ao mesmo tempo, sob minha descarada
batuta, já que, além de residirem na mesma cidade, ambas, ao seu modo,
destilavam facilmente os seus ciúmes doentios. Joana e Clarissa, eis os nomes
das minhas amadas mocinhas. Muito belas e gostosas para que meus insanos
desejos abrissem mão de qualquer uma dessas adoráveis beldades!
As conheci num baile
do Clube Social, quando com ambas dancei e para ambas metralhei as minhas propostas
indecorosas. Razão do meu afoito palavreado, percebi que as meninas atiçaram
seus tesões reprimidos, os quais, a exemplo do meu, insinuavam a ânsia de se libertarem
definitivamente, sobretudo consideradas as rígidas posturas morais exigidas
para a categoria de fêmeas que elas diziam pertencer. Devo confessar que eram
mesmo nascidas no seio de duas tradicionais famílias, realidade que não foi
suficiente para que eu abortasse os meus planos libidinosos. Durante seis meses
as tive sob os meus domínios e, depois de muita verborréia utilizada, atingi
meu objetivo de em ambas pôr o meu carimbo, tornando-as mulheres de fato.
Em razão dessa
dubiedade afetiva, em algumas circunstâncias tive de almoçar ou jantar duas
vezes num mesmíssimo dia para cinicamente atender as minhas obrigações de
comprometido pretendente. Freqüentei, nem sei como isto conseguia, num mesmo
dia, eventos cujas datas são fixas no calendário, a exemplo dos festejos
natalinos e de Reis, das celebrações da páscoa e do dia dedicado às mães.
Enfim, tornei-me um mágico para atender as minhas “necessidades” de amante
profissional e me fazer presente ante as exigentes cobranças de ambas.
Hoje, aqui sozinho e
a ousadamente rabiscar esses escritos, temo, como qualquer pecador e já
septuagenário, a chegada da minha definitiva viagem. Reconheço que para esta derradeira
empreitada não mais levarei ressentimentos. Sinto, inclusive, que ao exercitar
esta tarefa nesses papéis que me sobreviverão e para a qual sempre me reconheci
incapaz, tive amainados os vis sentimentos que ainda me perturbavam. Conforme
previ no início da narrativa, exorcizei, portanto, os meus fantasmas, além,
principalmente, de ter me deliciado com algumas das lembranças ditosas que aqui
afagaram ao meu coração avariado.
Devo, por fim,
agradecer, uma vez mais, ao meu caro e nobre amigo Doutor Clementino Dias pela
insistência para que este arrazoado de casos eu produzisse! Muito grato também sou
ao meu parceiro cotidiano, sempre solícito, cidadão inteligente e fiel amigo:
Coringa! Para vocês deixo cópias endereçadas, as quais se somarão as duas
outras que dentro do meu cofre sem segredos guardarei para as possíveis
leituras póstumas. Como último desejo eu encarecidamente rogo aos pósteros que
nunca esta casa do rio seja demolida.
Saudações,
Artur Cesar da Silva Borges
E assim, ainda corroído, mas também terna e
compulsivamente tocado pelas lembranças, as quais fazia apenas um mês que ele
conformara no que, com propriedade, intitulou “Breves Reminiscências”, o meu patrão, sábio e solitário, mas
sobretudo querido amigo, deixaria esse mundo de contradições, causando-me, por
certo, imensa tristeza. Cumpro, agora, com a minha última obrigação, que na
verdade para mim tem o grave significado de dar conhecimento a quem de direito
ou tão somente se interessar sobre fatos marcantes que pautaram a vida de um
homem singular e de uma belíssima, acolhedora e inesquecível vivenda.
Dorival Brito.
Piranhas, dezembro de 1954.
Roberto Dantas
Janeiro/15.
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