LAMENTO
(ao fraterno e inesquecível amigo Tinho Safira)
Daquela insana
brutalidade,
irrompida na fria
madrugada,
restam, apenas,
lamentos de dor.
Sem ânimo e tomado de
horror,
fiz do silêncio minha
morada;
fugi das sombras da
cidade.
Lembrei do olhar de
mocidade,
da silhueta magra e
alinhada,
do gestual de bom
falador.
O pesadelo foi o
condutor,
a amarga fruta
dissecada,
a expressão da
perversidade.
Há de se refletir a
banalidade,
o perigo da mão armada,
os superegos sem pudor.
Qual serventia e qual
destemor
valem para as vidas
ceifadas
pelo engano da
autoridade?
Despertei imune à
maldade,
instado pela manhã
ensolarada
e pelo azul do mar
conciliador.
Sem medo, ódio ou dor,
ergo a taça abençoada,
até esqueço da minha
idade.
Partiu despertando
saudade,
deixou sua imagem
fincada
na lembrança deste
viajor.
Rotas de um sertão
acolhedor
em que a raiz foi
plantada:
feliz e inesquecível
amizade!
R. Dantas
Out/15