domingo, 8 de novembro de 2015

POEMA LAMENTO

LAMENTO
(ao fraterno e inesquecível amigo Tinho Safira)



Daquela insana brutalidade,
irrompida na fria madrugada,
restam, apenas, lamentos de dor.
Sem ânimo e tomado de horror,
fiz do silêncio minha morada;
fugi das sombras da cidade.

Lembrei do olhar de mocidade,
da silhueta magra e alinhada,
do gestual de bom falador.
O pesadelo foi o condutor,
a amarga fruta dissecada,
a expressão da perversidade.

Há de se refletir a banalidade,
o perigo da mão armada,
os superegos sem pudor.
Qual serventia e qual destemor
valem para as vidas ceifadas
pelo engano da autoridade?


Despertei imune à maldade,
instado pela manhã ensolarada
e pelo azul do mar conciliador.
Sem medo, ódio ou dor,
ergo a taça abençoada,
até esqueço da minha idade.

Partiu despertando saudade,
deixou sua imagem fincada
na lembrança deste viajor.
Rotas de um sertão acolhedor
em que a raiz foi plantada:
feliz e inesquecível amizade!

R. Dantas
Out/15